Folha de S. Paulo


Multidão se reúne em Barcelona para apoiar consulta pela separação

Uma multidão está se reunindo nas ruas de Barcelona nesta quinta-feira (11), em uma aglomeração bicolor em forma de "V" de "vitória". Eles apoiam a consulta popular a respeito da separação da região catalã do restante da Espanha.

A reivindicação é tradicional, mas tornou-se dramática neste ano a partir da pressão política do presidente catalão, Artur Mas, e de uma crescente expectativa entre seus cidadãos. Os avanços do referendo escocês também inflamaram os ânimos.

Espera-se que Mas manobre o apoio popular expresso na quinta-feira, nas ruas, e formalize no dia 19 deste mês a consulta popular a ser realizada em 9 de novembro.

O Tribunal Constitucional deve declarar ilegal a medida, na sequência, enevoando quais os passos seguintes.

A consulta, se de fato celebrada, não significará a automática independência catalã. Mas imagina-se que uma vitória do "sim" estimule o fervor separatista ali.

A região catalã, com capital em Barcelona, é marcada por uma forte identidade e pelo uso da língua catalã ao lado do espanhol.

A ideia de separar-se da Espanha não é nova, mas tem sido apresentada nas últimas décadas não mais apenas como uma questão de identidade, mas econômica.

Catalães contribuem com uma larga fatia da arrecadação espanhola, mas recebem do governo um repasse que consideram injusto. Em Madri, o argumento é de que falte a catalães a solidariedade com regiões mais pobres.

"O que não queremos é que nos forcem a sermos solidários", diz à Folha Alejandro Ribó, professor de negociação europeia e um coordenador internacional da Assembleia Nacional Catalã.

"O povo catalão queria um Estado que entendesse a região. Mas, hoje, a democracia não respeita os direitos democráticos em temas como investimento e língua. Políticos enxergam o Estado em Madri como obstáculo."

A Diada, em que será reivindicada na quinta-feira a possibilidade de consulta popular sobre a independência, é uma data histórica na região. Neste ano, são celebrados os 300 anos desde a derrota de seus soldados diante do Exército da monarquia Bourbon, em 1714, e a dissolução de suas instituições.

Houve também uma breve manifestação contrária à consulta de soberania catalã, que logo desapareceu nas ruas do centro de Barcelona.

"Somos unionistas", afirma à reportagem Lucio Peñacoba, um líder no partido Democracia Nacional. "Acreditamos que há interesses econômicos e de partido na independência catalã", diz.

Editoria de Arte/Folhapress

RESIDENTES NO BRASIL

Catalães residentes no Brasil poderão votar na consulta separatista de 9 de novembro, caso seja de fato realizada.

De acordo com a Assembleia Nacional Catalã em São Paulo, recém-aberta, a lei eleitoral deve prever o voto eletrônico dos expatriados.

À Folha Mário Vendrell, que coordena a entidade no Brasil, estima que há cerca de 10 mil catalães no país. Não há cifra oficial. Para votar na possível consulta, eles terão de estar devidamente registrados no censo catalão.

A Assembleia Nacional Catalã foi inaugurada no Brasil em julho deste ano, em coordenação com o movimento central em Barcelona.

Em agosto, foi realizada uma miniatura da Diada, com manifestantes em São Paulo formando "V" de "voto", "vontade" e "vitória".

A Assembleia deve organizar palestras em universidades para divulgar o movimento. "Todo povo tem o direito de ser ouvido", diz Vendrell, também presidente da associação cultural catalã.


Endereço da página: