Folha de S. Paulo


Erdogan vira presidente da Turquia após 11 anos como primeiro-ministro

Após 11 anos como primeiro-ministro da Turquia, o conservador-islâmico Recep Tayyip Erdogan iniciou oficialmente nesta quinta-feira (28) seu primeiro mandato de cinco anos como presidente do país.

Duas semanas depois de sua vitória no primeiro turno das eleições, Erdogan, 60, sucede seu correligionário Abdullah Gul no cargo. Mesmo com acusações de corrupção e de governar de forma autoritária e após uma polêmica por ter tentado bloquear o acesso ao Twitter e ao YouTube, Erdogan teve 52% dos votos.

O novo presidente turco escolheu um de seus fiéis aliados para substituí-lo à frente da chefia do governo, o chanceler Ahmet Davutoglu.

Participaram da posse cerca de 15 chefes de Estado, quase todos de países vizinhos ou culturalmente próximos à Turquia, como os presidentes de Bulgária, Macedônia, Albânia, Cazaquistão e Turcomenistão, entre outros.

Umit Bektas/Reuters
Tayyip Erdogan durante a cerimônia de posse na capital turca, Ancara, nesta quinta (27)
Tayyip Erdogan durante a cerimônia de posse na capital turca, Ancara, nesta quinta (27)

O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, cancelou a viagem em consequência da "rápida deterioração da situação" no leste da Ucrânia, onde os separatistas pró-Rússia assumiram o controle de várias cidades.

Dirigentes de países ocidentais, aliados da Turquia dentro da Otan, enviaram apenas representantes, o que pode ser visto como sinal da crescente desconfiança que o novo presidente e sua vocação islamita e autoritária provocam. No caso dos EUA, apenas o encarregado de negócios de sua Embaixada em Ancara foi à cerimônia.

CONSTITUIÇÃO

"Como presidente, juro que vou defender a independência do Estado, sua unidade, e vou ser fiel aos princípios laicos da Constituição", leu Erdogan em sua posse.

Após o juramento, tal como pede o protocolo, ele se dirigiu ao Mausoléu de Mustafa Kemal "Atatürk" para homenagear ao fundador e primeiro presidente da Turquia moderna.

Erdogan afirmou que quer implantar um sistema presidencialista com amplos poderes para o chefe do Estado –o que depende de mudanças constitucionais que requerem dois terços de apoio parlamentar, fora do alcance da atual maioria absoluta do partido islamita governamental.

Ainda assim, o veterano político não escondeu sua ambição de estar no poder pelo menos até o ano de 2023, quando se completa um século da fundação da moderna república turca laica.

Os deputados da maior legenda opositora turca, o Partido Republicano do Povo (CHP), abandonaram a cerimônia no Parlamento por considerarem que Erdogan violou a Carta Magna.

Segundo repetiu o líder do CHP, Kemal Kilicdaroglu, Erdogan deveria ter deixado seu cargo de primeiro-ministro e a liderança de seu partido logo após a eleição.

"Estamos mais preocupados do que nunca com esse governo de um homem só", afirmou o deputado Aykan Erdemir, também do CHP.


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