Folha de S. Paulo


Brasil fará alerta contra ebola em aeroportos, mas não restringirá viagens

Frente à situação do ebola no oeste da África, os aeroportos brasileiros com voos internacionais vão passar, a partir deste sábado (9), a veicular mensagens sonoras de alerta com os sintomas da doença para passageiros.

Sem citar o ebola especificamente, a mensagem vai orientar que viajantes com sintomas como febre, diarreia e hemorragias procurem serviços de saúde e informem os países onde estiveram nas semanas anteriores.

Em entrevista coletiva nesta sexta-feira (8), o Ministério da Saúde informou, também, que vai aumentar o nível de atividade de um centro de operações de emergências em saúde, que funciona dentro do ministério, para o nível dois (varia de zero a quatro).

Com isso, esse centro terá a função de monitorar a situação nacional e de enviar equipes de especialistas a Estados brasileiros que eventualmente identificarem algum caso suspeito do ebola.

Até o momento, o ministério não registrou nenhum caso suspeito, mas "rumores vários" de pessoas que não se encaixavam nos critérios da doença.

Apesar das medidas, o governo brasileiro mantém a avaliação de que é "pouco provável" que a doença chegue ao país com um viajante. E "praticamente impossível" que ocorra uma transmissão entre pessoas dentro do Brasil.

"Não há risco, neste momento de transmissão do ebola no Brasil. Não há recomendação internacional de restrição de viagem e de comércio", reforçou o ministro Arthur Chioro (Saúde).

A Saúde mantém a posição de não recomendar restrições de viagens aos países atingidos pelo ebola. Desaconselha, por outro lado, a ida de brasileiros às áreas rurais diretamente atingidas pelo vírus nesses países, incluindo a ida de missionários e de profissionais de saúde que não estejam inseridos na força internacional de saúde.

O ministério também anunciou, nesta sexta, que vai mobilizar os equipamentos de proteção individual (com macacões de proteção) utilizados na Copa do Mundo para as cidades que têm aeroportos internacionais. E que o país vai doar R$ 1 milhão para a OMS (Organização Mundial da Saúde) atuar no combate à doença nos países africanos.

Neste atual e mais grave surto, o ebola já infectou mais de 1.700 pessoas e matou mais de 900. Serra Leoa, Libéria e Guiné concentram os casos identificados, mas também há registros na Nigéria.

Desde a semana passada, o Ministério da Saúde brasileiro vem reforçando os alertas para as equipes de portos e aeroportos e dos serviços de saúde para garantir a identificação e o correto atendimento de eventuais pessoas com suspeita de ebola no Brasil.

Os novos cuidados brasileiros se seguem às diretrizes para o controle da doença divulgadas, também nesta sexta, pela OMS, que declarou estar ocorrendo uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional.

"A OMS reconhece que o surto é um evento extraordinário, não é normal, pela duração, com sete meses de transmissão. Demonstra claramente que os três governos não têm capacidade de lidar sozinhos com o surto, essa é a principal mensagem. Ou a comunidade internacional se mobiliza para ajudar, ou eles sozinhos não vão conseguir controlar o surto", disse, nesta sexta, Jarbas Barbosa, secretário de vigilância em saúde do ministério brasileiro.

As orientações internacionais têm focos diferentes, a depender do grau de proximidade com o vírus ebola: para os países diretamente afetados, países sob risco e com fronteira terrestre com os afetados, e os demais países do mundo.

Para países não afetados pelo ebola, onde se inclui o Brasil, a OMS recomenda um preparo para a eventual necessidade de repatriar nacionais expostos ao ebola (como já ocorreu com os Estados Unidos e a Espanha), a divulgação de informações sobre a situação da doença e o estabelecimento de condições para identificar e tratar eventuais pessoas doentes –incluindo, aqui, a capacidade de identificar viajantes com origem nas áreas afetadas e com febre inexplicada.

VIAGENS

Nas diretrizes divulgadas nesta sexta e orientadas a países como o Brasil, a OMS destaca que não deve haver um veto geral para viagens ou trocas comerciais. Por outro lado, estabelece uma proibição de viagens de pessoas infectadas e pessoas que entraram em contato com esses doentes.

Segundo o secretário de vigilância em saúde do ministério, a orientação internacional vai na linha de estabelecer uma espécie de barreira para evitar que o vírus deixe as áreas já afetadas.

"Todas as pessoas que forem sair de Serra Leoa, Guiné e Libéria devem ser entrevistadas, com perguntas sobre se tem ou teve febre, tem ou teve contato com pessoa doente. Se responder 'sim', vai para entrevista mais detalhada. Se se considerar que existe mesmo um risco de infecção, aí tem recomendação para que a pessoa não viaje para qualquer país do mundo", diz ele.

O Ministério da Saúde brasileiro afirma que continua seguindo as diretrizes internacionais e que não há recomendação para evitar viagens, de forma geral, aos países. Também não há orientação, diz a pasta, de evacuar brasileiros que vivem na Nigéria, na Guiné, em Serra Leoa ou na Libéria.

Nesta terça (5), o Itamaraty se manifestou no sentido se recomendar o cancelamento de viagens não-essenciais, por meio de uma nota publicada em seu "Portal Consular". Mas, como a orientação do Ministério da Saúde brasileiro era –e continua sendo- a de não restringir viagens aos países, o Itamaraty acabou retirando do ar esta recomendação nesta quarta (6).

A Saúde disse ter sido procurada, na semana passada, por um médico brasileiro que estava em um dos países africanos afetados trabalhando por uma entidade médica internacional. Segundo Barbosa, o médico não tinha sintomas, mas estava preocupado em eventualmente transmitir a doença. Foi orientado, continua, a monitorar o possível surgimento de febre –o ebola só é transmissível após o aparecimento dos sintomas.

Não está prevista a realização de triagens de viajantes nos aeroportos brasileiros, por considerar essa estratégia pouco eficiente. A orientação é para que as companhias aéreas informem a presença de passageiros doentes ou que os próprios viajantes procurem os serviços de saúde.

DOENÇA

Barbosa explicou que os casos de ebola evoluem rapidamente para uma situação grave. "Tem início abrupto e agravamento rápido. Diferentemente de outras doenças, não tem quadros leves, que a pessoa fica em casa tomando remédio para dor e febre. São sintomas exuberantes, obriga a pessoa a procurar um serviço de saúde", disse o secretário.

Ele afirma que não há, até o momento, medicamento específico ou vacina contra o ebola. Segundo ele, a OMS convocou um grupo de especialistas para avaliar, na próxima semana, a eficiência de um medicamento usado experimentalmente com um americano infectado.

A taxa de letalidade do ebola, registrada nos surtos identificados até hoje, pode variar de 60% a 90%. A taxa do atual surto está próxima de 60%.


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