Folha de S. Paulo


Palestinos em Gaza voltam para casa durante cessar-fogo

Após o início da trégua na faixa de Gaza, onde cerca de meio milhão de pessoas foram deslocadas após um mês de conflito com Israel, alguns moradores, carregando colchões e com filhos a tiracolo, saíram dos abrigos da ONU nesta terça-feira (5) e voltaram para suas cidades –com quarteirões inteiros destruídos e cheiro de corpos em decomposição.

Sentado em uma pilha de escombros, em Beit Lahiya, no norte da faixa de Gaza, Zuhair Hjaila, 33, disse que perdeu sua casa e seu supermercado. "Esta é a destruição completa", disse ele. "Eu nunca pensei que eu iria voltar e encontrar uma zona de terremoto".

Israel retirou todas as suas forças terrestres da faixa de Gaza antes da entrada em vigor, às 8h locais (2h de Brasília), do cessar-fogo de 72 horas mediado pelo Egito.

Oliver Weiken/Efe
Casal palestino busca pertences em sua casa em Beit Hanoun, no norte de Gaza
Casal palestino busca pertences em sua casa em Beit Hanoun, no norte de Gaza

Antes das 8h, o Hamas, grupo radical islâmico que controla a faixa de Gaza, lançou uma série de foguetes contra Israel. O sistema anti-míssil de Israel, Domo de Ferro, abateu um foguete sobre Jerusalém. Outro atingiu uma casa em uma cidade perto de Belém, na Cisjordânia. Não houve vítimas.

Um funcionário israelense disse que na hora antes do cessar-fogo, o espaço aéreo civil sobre Tel Aviv foi fechado como precaução contra foguetes de Gaza, e pousos e decolagens foram atrasados ​​no Aeroporto Ben Gurion.

MISSÃO CUMPRIDA

Tropas e tanques foram "redistribuídos em posições defensivas fora da faixa de Gaza", segundo o porta-voz do Exército de Israel, Peter Lerner. As forças armadas estariam prontas para responder em caso de ataque palestino.

O Exército já havia retirado a maior parte de seus efetivos da faixa de Gaza entre sábado e domingo, mas ainda restava um contingente de infantaria e de blindados no sul do território palestino, nas proximidades da cidade de Rafah.

Segundo os militares, o objetivo principal da invasão à Gaza, a destruição dos túneis que o Hamas usa para se infiltrar em Israel, já havia sido terminada.

Lerner disse que o Exército destruiu o último dos 32 túneis localizados dentro de Gaza a um custo estimado de US$ 100 milhões.

Funcionários de Gaza dizem que a guerra matou 1.865 palestinos, a maioria civis. Israel diz que 64 de seus soldados e três civis foram mortos desde o início da ofensiva em 8 de julho.

NEGOCIAÇÃO

O Departamento de Estado dos EUA saudou a trégua e instou as partes a "respeitá-la completamente". A porta-voz Jen Psaki acrescentou que Washington continuará seus esforços para ajudar os lados alcançar uma "solução duradoura, sustentável a longo prazo".

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, também celebrou a trégua.

A trégua foi negociada com a presença no Cairo de uma delegação palestina que contava com membros da Autoridade Palestina, presidida por Mahmud Abbas, e com representantes dos grupos islamitas Hamas e Jihad Islâmica.

Israel deve enviar delegados para participar das conversas no Cairo com o objetivo de acertar um acordo de longo prazo durante essa trégua. O Egito tem sido mediador em sucessivos conflitos em Gaza, mas, como Israel, seu governo atual vê o Hamas como uma ameaça à segurança.

O Hamas, por sua vez, rejeita a existência do Estado judaico.

Além da trégua, os palestinos exigem o fim do bloqueio israelense-egípcio em Gaza e a libertação de prisioneiros, incluindo os presos na Cisjordânia, durante uma operação de Israel depois que três judeus foram sequestrados e mortos no local.

O ministro das Relações Exteriores palestino, Riad al-Malki, planejava visitar o Tribunal Penal Internacional na Holanda na terça-feira (5) para pressionar por uma investigação contra crimes de guerra de Israel. As duas partes trocaram acusações de crimes de guerra durante o conflito.

O atual cessar-fogo foi acertado quatro dias após os dois lados concordarem com uma trégua no mesmo formato. No entanto, a paralisação nos combates foi desrespeitada nas primeiras horas.


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