Folha de S. Paulo


Cerco de Gaza impõe carência a palestinos

Cercada por mar, ar e terra, a faixa de Gaza tem sido nos últimos sete anos um território definido pela carência. No estreito de terra árida, onde burros dividem estradas com carros, faltam água potável, alimentos e remédios.

O Hamas exige, em negociações, que o bloqueio israelense termine. Israel, por outro lado, justifica o controle por questões de segurança.

"Todos somos contra o bloqueio", afirma à Folha Muhammad al-Atram diante do que restou de sua casa, bombardeada pelas forças de Israel em Jabaliya na semana passada. Sete vizinhos morreram no ataque. "Não podemos nem nos mover", diz.

"Não há nada aqui. Quero estudar no exterior", diz Muhammad al-Atab, 21, que dorme na rua após fugir de Shujaya, cenário de bombardeio.

O cerco a Gaza começou em 2007, depois de a facção radical palestina Hamas (cuja "Constituição", de 1988, defende a destruição de Israel) chegar ao poder na área, derrotando o rival Fatah, que governa a Cisjordânia. O Egito restringe a passagem pelo sul.

"Estamos morrendo lentamente", diz um porta-voz do Hamas. O Fatah concorda com a exigência do fim do bloqueio. "É desumano deixar 1,7 milhão de pessoas em uma prisão a céu aberto, separadas do restante do país", diz um porta-voz da facção. "É uma punição coletiva contra a população civil."

O diretor do hospital Shifa estima que o atual estoque de medicamentos irá durar uma semana. "Já faltava remédio antes da guerra. Usamos o mínimo", diz Nasr al-Ttar.

Falta também comida, afirma Arwa Mohana, do grupo humanitário Oxfam, que entrega cupons para retirada de alimentos em pontos de entrega a 36 mil pessoas.

Mesmo após eventual trégua, o bloqueio deverá prolongar a crise. Segundo a liderança palestina, a operação iniciada por Israel no dia 8 passado deixou 3.175 edificações destruídas. "Não há novas sendo construídas, já que faltam ferro e cimento", diz Jaber Qudaih, do Centro de Desenvolvimento Maan.

OUTRO LADO

Para a Coordenação de Atividade Governamental nos Territórios, autoridade israelense responsável pela passagem a Gaza, "não há realmente um bloqueio". Israel controla passagens, mas para combater o terrorismo, diz.

Na quarta (23), Israel facilitou a entrada de 1.098 toneladas de comida, 720 toneladas de material e 31 toneladas de suprimento médico.

O controle de bens é feito, diz o porta-voz Guy Imbar, para evitar o uso de material na construção de túneis. A passagem de pessoas, restrita a casos excepcionais, tem razões de segurança. "O Hamas utiliza o movimento das pessoas, em alguns casos, para incrementar as suas capacidades de terrorismo."


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