Folha de S. Paulo


Exército israelense inicia invasão por terra em Gaza

O exército de Israel iniciou, nesta quinta-feira (17), uma incursão por terra em Gaza. O ataque ocorre por ordem do primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, e do Ministério da Defesa.

Segundo um comunicado do gabinete do premiê, o objetivo da invasão é destruir túneis usados pelo Hamas para entrar no território israelense.

A incursão não pretende, porém, derrubar o grupo islâmico Hamas do território palestino, disse um porta-voz do exército. "Esse não é o objetivo desta missão", afirmou o tenente-coronel Peter Lerner a jornalistas.

Por um túnel, 13 militantes palestinos teriam tentado entrar em Israel nesta quinta (17). Os militantes teriam sido identificados pelo Exército israelense cruzando um túnel que começa no sul de Gaza e termina próximo ao kibutz Sufa, em Israel. Os palestinos estariam armados com mísseis e fuzis.

Em função da operação, as forças armadas israelenses convocaram hoje mais 18 mil reservistas, que se somam a 56 mil homens já recrutados anteriormente.

Ao menos sete palestinos foram mortos no início dessa ofensiva terrestre, durante a madrugada desta sexta-feira (18).

Na localidade de Rafah, no sul de Gaza, perto da fronteira com o Egito, teriam morrido três pessoas —entre elas, um bebê de cinco meses. As outras duas vítimas estariam no bairro de Beit Hanun, no norte de Gaza.

A invasão começa após dez dias de ataques remotos, por céu, mar e terra, e duas tentativas de cessar-fogo recusadas pelo Hamas.

"O Hamas quebrou o cessar-fogo humanitário da ONU, continuando a atacar Israel. A Operação Margem Protetora continuará até atingir seus objetivos: restabelecer a calma e a segurança dos cidadãos israelenses", disse o gabinete.

O comunicado informa ainda que a operação incluirá o uso de infantaria, artilharia e inteligência, combinadas a apoio aéreo e naval.

O Hamas, também em comunicado oficial, classificou a invasão de um "passo drástico e perigoso". "A ocupação vai pagar um preço alto por isso."

"Isso não assusta os líderes do Hamas nem o povo palestino", disse Sami Abu Zuhri, porta-voz do grupo. "Advertimos Netanyahu das conseqüências terríveis de um ato tão insensato."

Jack Guez/AFP
Fila de tanques israelenses em região próxima à fronteira com Gaza nesta quinta-feira (17)
Fila de tanques israelenses em região próxima à fronteira com Gaza nesta quinta-feira (17)

PROTEÇÃO DE CIVIS

Diante da incursão a Gaza, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, declarou que Israel necessita "fazer mais" para evitar a morte de civis palestinos.

"Lamento que, apesar dos meus repetidos apelos, e também de líderes regionais e mundiais, um conflito já perigoso se aprofundou ainda mais agora."

Nesta quinta, poucas horas antes do comunicado de Netanyahu anunciando a ocupação ser divulgado, os Estados Unidos, por meio da porta-voz do Departamento de Estado Jen Psaki, também haviam dito que é preciso "fazer tudo o possível para proteger os civis".

O posicionamento destacou ainda o repúdio de Washington a "ataques indiscriminados de foguetes" do Hamas contra civis israelenses.

"Incitamos todas as partes a protegerem os civis", disse. "Ficamos com o coração partido pelo alto número de mortes em Gaza."

A presidente Dilma classificou de "lamentável" a escalada de violência em Gaza e criticou Israel pela resposta "desproporcional" aos ataques palestinos.

"O Brasil defende que tenha dois Estados, um palestino e um israelense. O Brasil é contra a violência dos dois, tanto de Israel quanto da Palestina", afirmou a presidente.

Também em reação à operação, o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, disse estar "extremamente preocupado" pela decisão israelense. Nesta sexta (18), ele deve reunir-se com o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, e com o secretário de Estado dos EUA, John Kerry. O encontro deve ocorrer no Cairo, no Egito.

Desde o início da ofensiva Margem Protetora em Gaza, no último dia 8, já foram mortos ao menos 220 palestinos e um israelense. Pelo menos, 1.500 foram feridos.

CESSAR-FOGO

Israel e Hamas haviam se comprometido a fazer um cessar-fogo nesta quinta-feira. A trégua duraria cinco horas —entre as 10h e as 15h locais (4h e 9h de Brasília)—, com o objetivo de permitir a retirada dos feridos mais graves e o abastecimento da população da faixa de Gaza.

Segundo o Exército israelense, no entanto, o acordo não foi cumprido pelo Hamas, que teria lançado três morteiros no sul de Israel, na região de Eshkol.

Israel já havia dito, na quarta (16), que, se o Hamas, "ou qualquer outra organização terrorista", aproveitasse esta janela humanitária para realizar ataques, o Exército responderia de "forma contundente".

A trégua foi solicitada pelo enviado especial da ONU para o Oriente Médio, Robert Serry, em consequência da morte de quatro meninos palestinos na última quarta-feira em uma praia de Gaza por um bombardeio da Marinha israelense.


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