Folha de S. Paulo


Ex-editora do 'New York Times' vê ameaça à imprensa

É "preocupante" a situação da liberdade de imprensa nos Estados Unidos. O diagnóstico é da ex-editora-executiva do "New York Times" Jill Abramson, que considera a decisão da Justiça americana que obriga um ex-colega a depor no julgamento de uma possível fonte um "golpe no coração da democracia" do país.

A jornalista, que esteve à frente do "NYT" entre setembro de 2011 e maio passado –quando foi demitida por divergências sobre seu "modo de gestão"–, destaca a quantidade de processos movidos contra delatores nesta administração, o dobro de todos os outros governos até 1917, quando foi criada a Lei de Espionagem, somados.

"É surpreendente que o governo Obama tenha sido tão agressivo em buscar esses processos contra delatores, que são as fontes de reportagens que considero importantes e de interesse público", disse Abramson a um grupo reunido em Nova York pela organização The Common Good na terça (15).

A jornalista citou o caso de James Risen, do "NYT", que teve rejeitado pela Suprema Corte o recurso para não testemunhar sobre um agente da CIA, sua possível fonte. Ainda lembrou o monitoramento de um repórter da Fox News após uma matéria sobre a Coreia do Norte.

Sobre sua abrupta demissão, em maio, Abramson desabafou: "Não foi a melhor experiência da minha vida. Mas, com o tempo, você acaba lidando com ela".

Descalça sobre um banquinho para poder ver e ser vista por todos –Abramson tem menos de 1,5 metro de altura–, ela disse ter se espantado com a dimensão que sua saída ganhou. "É esquisito se tornar 'a história'", disse, lembrando que dezenas de jornalistas viajaram até o interior da Carolina do Norte só para cobrir seu discurso após sua demissão.

Em tom saudoso, disse que, se pudesse voltar atrás, teria escrito mais reportagens no período em que foi editora-executiva. "Sempre senti muita falta de escrever."

Agora, seu plano é ensinar narrativa de não ficção aos alunos de Harvard.


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