Folha de S. Paulo


Em discurso em Brasília, presidente chinês defende soberania cibernética

Em discurso no Congresso brasileiro nesta quarta-feira (16), o presidente da China, Xi Jinping, criticou os recentes casos de espionagem cibernética, conduzidos principalmente pelos Estados Unidos.

Sem citar nenhum país, ele afirmou que a segurança e a soberania na internet de algumas nações não pode ser obtida às custas da segurança de outras.

Xi elogiou as relações entre o Brasil e a China ao longo dos últimos 40 anos e reforçou a necessidade de ampliação da vertente bilateral para ter cada vez mais projeção global.

No ano passado, o ex-agente americano Edward Snowden revelou ações de espionagem conduzidas pela NSA (a Agência de Segurança Nacional dos EUA), que coletaram informações estratégicas de vários países, incluindo o Brasil.

Para Xi, o desenvolvimento da internet "formula novos desafios à soberania, segurança e interesses de desenvolvimento dos países" e estes devem ser enfrentados com seriedade.

"Embora a internet seja altamente globalizada, permanecem invioláveis os direitos e interesses soberanos na área informática de qualquer país. Não há espaço para duplo critério na área informática, onde todos os países têm direito de defender a sua própria segurança informática. Não é aceitável que um ou alguns países ficam seguros, e outros não, para já não dizer obter a chamada segurança absoluta de um país a custa de segurança de outros", afirmou o presidente chinês.

Ele defendeu que seja construído um ambiente pacífico, seguro, aberto e cooperativo na internet, além de se criar um sistema de governança internacional da internet multilateral, democrático e transparente.

Apesar do discurso de seu presidente, a China é constantemente criticada no cenário internacional em decorrência de seus ataques de hackers.

Em março deste ano, hackers chineses invadiram as redes de uma agência do governo dos Estados Unidos, que armazena dados de todos os servidores públicos federais do país.

RELAÇÕES BILATERAIS

As relações bilaterais entre Brasil e China completam 40 anos em 2014. Segundo Xi, as relações entre ambas as nações estão mais maduras e consolidadas. No ano passado, o fluxo do comércio entre as duas nações ultrapassou US$ 90 bilhões.

"O Brasil foi o primeiro país em desenvolvimento que estabeleceu parceria estratégica e o primeiro país da América Latina e Caribe que formou parceria estratégica global com a China", disse. O país asiático é o principal parceiro comercial do Brasil nos últimos cinco anos e o Brasil é o quarto país que mais recebe investimentos chineses.

Para Xi, o aniversário das relações diplomáticas devem ser um novo ponto de partida para ampliar as parcerias, tanto econômicas e comercias, quanto culturais.

"Devemos continuar a ampliar o investimento mútuo, aproveitar o papel promotor da cooperação financeira e alavancar uma série de projetos estratégicos compatíveis com o desenvolvimento das duas partes conducentes ao bem-estar dos nossos povos", disse.

O presidente asiático defendeu ainda o estreitamento de intercâmbios entre governos, órgãos legislativos, partidos políticos e governos locais. Para ele, o contato direto com parlamentares brasileiros é parte importante das relações bilaterais.

O presidente do Congresso e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), agradeceu a presença do presidente chinês e enfatizou a necessidade da parceria entre os dois países. "Esta visita é um sinal claro da profundidade e da extensão do nosso governo, que como sabemos também se desenvolve na forma de uma intensa cooperação parlamentar", disse.

Representando o parlamento brasileiro, Calheiros ratificou a criação do banco de desenvolvimento dos Brics.

"Podemos considerar que se trata da iniciativa mais importante das últimas décadas para o acesso ao crédito para países em desenvolvimento e emergentes", afirmou.

Para o senador, a nova instituição financeira será fundamental para forçar uma reforma do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial de forma a facilitar o acesso ao crédito para os países emergentes.


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