Folha de S. Paulo


Análise: Governo do 1º presidente negro frustra desejo de grande mudança

Passados seis anos e meio do governo de Barack Obama, fica claro que a maioria das previsões de grandes mudanças que ele traria não se realizará.

Filho de imigrante, eleito com 71% dos votos da comunidade hispânica, ele não foi capaz de alterar as leis de imigração do país e é o presidente dos EUA que mais ordenou deportações na história (2 milhões de pessoas).

Prêmio Nobel da Paz de 2009, não conseguiu negociar acordos para cessar hostilidades em nenhuma região do mundo, e sua política de uso rotineiro de drones criou um estado de "guerra contínua e alargada", segundo estudo do Stimson Center, renomado grupo de especialistas em defesa.

Primeiro presidente negro dos EUA, tem se mostrado impotente para impedir que em muitos Estados ocorram significativas reversões da Lei dos Direitos de Voto, que Lyndon Johnson assinou 50 anos atrás para garantir que as minorias étnicas pudessem participar de eleições.

A "Voting Rights Act" de Johnson tornou ilegais exigências que Estados do sul faziam para obter título de eleitor, como testes de alfabetização e comprovantes de pagamento de impostos.

Desde 2010, muitos Estados aprovaram leis com novos requisitos para o registro eleitoral, que dificultam a pobres e negros o exercício do direito de voto. Em junho de 2013, o Supremo derrubou partes da VRA que impunham aos Estados a obrigação de submeter ao governo federal quaisquer mudanças que viessem a fazer em sua legislação sobre eleições.

Com isso, 22 Estados passaram a restringir a inscrição de eleitores com obrigações como apresentação de documentos com fotos e/ou comprovante de residência, impedimento a condenados pela Justiça por crimes e outras.

Essas mudanças ocorrem especialmente em Estados do sul, a maioria sob controle do Partido Republicano, que passou a dominar a região após John Kennedy e Lyndon Johnson (democratas) combaterem a segregação racial.

Os republicanos, com maioria na Câmara, obstruem as iniciativas políticas do presidente, que lhes atribui sua relativa inação. Mesmo quando não depende do Legislativo, Obama tem frustrado os que criam que ele seria um agente de transformação. Inclusive muitos negros.

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA é editor da revista "Política Externa" e Global Fellow do Woodrow Wilson Center


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