Folha de S. Paulo


Exército israelense encontra corpos de estudantes desaparecidos

Foram encontrados na Cisjordânia, nesta segunda-feira (30), os corpos dos três adolescentes israelenses desaparecidos há 18 dias, levando a região ao alerta quanto a possibilidade de um confronto armado entre Israel e e o grupo palestino Hamas.

A notícia foi recebida com manifestações na Cisjordânia e com pedidos de figuras do governo israelense por uma firme resposta ao crime. Era esperado que colonos israelenses iniciassem uma onda de violência contra palestinos na região.

Havia também relatos de que casas dos suspeitos pelo sequestros estavam sendo demolidas pelo governo israelense, e moradores de Hebron, cidade pelestina próxima ao local do desaparecimento, afirmavam que as entradas da cidade estavam bloqueadas pelo Exército israelense.

Reuters
Os adolescentes Naftali Frankel, Gilad Shaar e Eyal Yifrach que desapareceram na Cisjordânia
Os adolescentes Naftali Frankel, Gilad Shaar e Eyal Yifrach que desapareceram na Cisjordânia

O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, ameaçou o Hamas nesta segunda. "O Hamas é o responsável e eles vão pagar", disse antes de reunião com autoridades de segurança para discutir uma retaliação ao sequestro. "Eles foram sequestrados e mortos a sangue frio por animais", disse.

O Hamas se pronunciou rejeitando as alegações de Israel. "Nenhum grupo palestino, nem o Hamas, assumiu responsabilidade pela ação, portanto, não se pode acreditar na versão de Israel", disse o porta-voz Sami Abu Zuhri. "Nós já estamos acostumados [com ameaças] e saberemos como nos defender", acrescentou.

Eyal Yifrah, 19, Gilad Shaar, 16, e Naftali Fraenkel, 16, haviam sumido na região de Gush Etzion, uma colônia judaica, quando pegavam uma carona para casa. Eles voltavam de uma escola religiosa.

O desaparecimento colocou de imediato em alerta as forças de segurança israelenses e abriu uma crise política entre Israel e a Autoridade Nacional Palestina.

Operações de busca mobilizaram o Exército no território ocupado da Cisjordânia, e cerca de 400 palestinos foram detidos no período, pelo que o governo israelense foi alvo de críticas. As buscas levaram, ainda, à morte de pelo menos cinco palestinos.

Os corpos dos três jovens israelenses foram encontrados ao norte de Hebron, um dos pontos mais voláteis da região. Voluntários civis acharam os corpos enterrados sob pedras em um campo próximo a vila palestina de Halhul e notificaram o Exército.

Segundo uma fonte militar disse ao "New York Times", os corpos foram baleados pouco tempo após o sequestro.

O achado levou, nesta segunda, a condenações em todo o governo israelense contra a facção palestina Hamas, que controla a faixa de Gaza.

O vice-ministro da Defesa, Danny Danon, pediu por uma ação militar e disse em nota que o governo "não iria parar até que o Hamas fosse derrotado". Ele pediu a demolição de "casas dos terroristas" e destruição de seus esconderijos de armas, e pediu à comunidade internacional para interromper "toda a ajuda à Autoridade Palestina."

"Israel deve declarar uma guerra até a morte contra o Hamas, que é responsável pelas mortes, e voltar a política de assassinatos", disse o vice-ministra do Transporte, Tzipi Hotovely.

Os avanços da crise serão um grave desafio para o recém-negociado governo de unidade na Autoridade Nacional Palestina (ANP), que uniu as facções inimigas Fatah e Hamas após anos de ruptura.

O acordo entre Fatah e Hamas foi recebido por Israel como o fim da possibilidade de negociar a paz, a partir da aproximação do presidente da ANP, Mahmoud Abbas, com o grupo que o Netanyahu considera terrorista.

Abbas, que cedeu equipes para ajudar na busca aos estudantes, convocou uma reunião para discutir as consequências do caso.

ESCALADA

"Os Estados Unidos condenam nos termos mais fortes possíveis esse ato de terrorismo insensato cometido contra jovens inocentes", declarou o presidente Barack Obama em um comunicado. Ele também pediu que "todas as partes evitem dar passos que possam desestabilizar ainda mais a situação".

Em busca dos jovens, o exército israelense lançou sua operação terrestre mais ampla na Cisjordânia em quase uma década. Israel identificou dois agentes procurados do Hamas como os principais suspeitos, mas os dois homens seguem foragidos.

O caso dos três jovens também levou a um aumento nos combates entre Israel e o Hamas, na faixa de Gaza.

Durante o dia, houve confrontos entre soldados israelenses e palestinos em Halhul. O Exército bloqueou a entrada da vila palestina e também da colônia israelense Karmei Tzur.

Centenas de pessoas se reuniram em Jerusalém em luto pela morte dos estudantes. Em Tel Aviv, israelenses acenderam velas, na mesma praça onde no domingo (29) houve uma vigília.

O presidente de Israel, Shimon Peres, declarou que "em meio à profunda tristeza, continuamos determinados a punir ferozmente os terroristas criminosos".

Já o Vaticano disse em nota que "o assassinato de pessoas inocentes é sempre um crime hediondo e inaceitável, um grave obstáculo no caminho para a paz", informando também que o papa Francisco se solidarizava com as famílias das vítimas.


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