Folha de S. Paulo


Crises no Oriente Médio fecham rotas de exportação turcas

Os caminhoneiros da Turquia já não sabem mais por onde seguir. As crises políticas nos vizinhos ao sul bloqueiam estradas e ameaçam as vias de exportação.

O estabelecimento de uma região militante islamita no Iraque, com a queda da cidade de Mossul, interrompeu a rota pela qual a Turquia enviava seus produtos a Bagdá e, mais adiante, ao Kuait e à Arábia Saudita. Cerca de 30 motoristas foram sequestrados pelos islamitas.

O Iraque é o segundo maior destino das exportações turcas. A Turquia enviou para lá, em 2012, um valor equivalente a US$ 10,8 bilhões, em especial em ferro, aço e maquinário elétrico.

À Folha, Dursun Topçu, vice-presidente da Câmara de Comércio de Istambul, estimou que pode haver uma perda de até 50% desse valor caso a crise iraquiana perdure.

Güven Sak, vice-reitor da Universidade de Economia e Tecnologia TOBB, afirma que o comércio entre Bagdá e Ancara já fora prejudicado pelas intervenções americanas nas últimas décadas, quando "o Iraque se tornou um Estado pária". A situação havia, porém, se revertido.

Sak nota que, com grande parte da exportação turca passando por territórios em conflito, a política externa do premiê Recep Tayyip Erdogan -baseada no princípio de "problema zero com países vizinhos"- tem menos a ver com a simpatia do que com estabelecer rotas comerciais na região.

NA ESTRADA
O principal parceiro comercial da Turquia é a Alemanha. Mas o país exporta também importante parte de sua produção para Arábia Saudita e Emirados Árabes, destinos que dependem das estradas ligando a região de Gaziantep à Síria e ao Iraque.

Os caminhões originalmente saíam de Gaziantep e passavam por Aleppo, na Síria, rumo à Jordânia e à Arábia Saudita (veja mapa ao lado). A insurgência e o conflito sírios, a partir de 2011, bloquearam estradas.

A alternativa sairia de Habur, na Turquia, e passaria por Bagdá, Kuait e Arábia Saudita. O caminho atravessaria, porém, Mossul -tomada por islamitas.

Mesmo a passagem pelo mar Mediterrâneo, cruzando o canal de Suez, no Egito, deixou de ser viável. Os tumultos dos últimos anos fizeram do deserto do Sinai e de Port Said trechos instáveis.

O economista Sak nota que a melhor opção, hoje, é enviar produtos ao porto israelense de Haifa e dali transportar à Jordânia e, então, à Arábia Saudita, em uma complicada logística. A monarquia saudita, no entanto, é desafeto de Israel.

Tezer Palacioglu, vice-secretário-geral da Câmara de Comércio de Istambul, nota que não há soluções para o problema. "Não podemos mudar nosso país de lugar." Mas ele também vê na crise uma oportunidade. "Os países ao redor precisam de produtos, e ninguém além da Turquia pode provê-los. A guerra no Iraque pode criar, também, mercados."

O jornalista DIOGO BERCITO viajou a convite do governo da Turquia


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