Folha de S. Paulo


Papa recebe líderes de Israel e Palestina para oração conjunta

Em um gesto simbólico e histórico, o papa Francisco recebeu neste domingo (8) no Vaticano o presidente de Israel, Shimon Peres, e o da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, para uma prece conjunta pela paz no Oriente Médio.

O evento aconteceu nos jardins do Vaticano, local considerado neutro por ser ao ar livre e ausente de símbolos religiosos.

A cerimônia foi dividida em três atos. Em cada um deles, foram feitas orações –judaicas, cristãs e muçulmanas– de agradecimento pela criação, de perdão pelos pecados cometidos e de invocação à paz.

Filippo Monteforte/AFP
O papa Francisco caminha ao lado do palestino Mahmud Abbas (à esq.) e do israelense Shimon Peres
O papa Francisco caminha ao lado do palestino Mahmud Abbas (à esq.) e do israelense Shimon Peres

Entretanto, antes do encontro, o Vaticano minimizou qualquer expectativa de que a reunião tivesse efeitos políticos imediatos.

"Ninguém é tão presunçoso a ponto de achar que a paz vai acontecer na segunda-feira [hoje]", disse o padre Pierbattista Pizzaballa, um dos organizadores do evento.

"A intenção é reabrir uma estrada que está fechada há algum tempo", disse, acrescentando que o papa não iria se envolver em detalhes de questões como fronteiras ou assentamentos.

Ainda assim, em sua fala, Francisco fez um forte apelo a Abbas e Peres, pedindo pelo fim "dos muros da inimizades" e pela retomada "do diálogo". "Para fazer a paz é preciso coragem, muita mais do que para fazer a guerra. É preciso coragem para dizer sim ao encontro e não aos enfrentamentos; sim ao diálogo e não à violência; sim às negociações e não às hostilidades."

Depois, Peres tomou a palavra e disse que, ainda que a paz não possa ser alcançada facilmente, é preciso lutar por ela "com todas as forças", aceitando sacrifícios ou compromissos.

"Todos precisamos da paz. Da paz entre iguais."

Em Israel, o cargo de Peres é cerimonial –o chefe de governo é o premiê Binyamin Netanyahu, visto com desconfiança pelos palestinos, que não foi ao evento.

Abbas, por sua vez, disse que a reconciliação, a paz "justa", "uma vida digna" e a "liberdade" também são objetivos dos palestinos. No discurso mais político dos três líderes, advogou pela criação de um Estado palestino soberano e independente.

No fim da cerimônia, os líderes plantaram um pé de oliveira, árvore símbolo da paz. Eles também tiveram um encontro a portas fechadas.

ESFORÇO DIPLOMÁTICO

O evento foi um desdobramento da visita do papa à Terra Santa entre os dias 24 e 26 de maio, em um contexto de interrupção, desde abril, dos diálogos de paz mediados pelos Estados Unidos entre israelenses e palestinos.

Na ocasião, Francisco rezou no muro que separa a Cisjordânia de Israel e se referiu, durante uma missa ao lado da igreja da Natividade, ao "Estado Palestino", entidade que Israel não reconhece.

Durante a viagem, o papa também deitou uma coroa de flores no túmulo de Theodor Herzl (1860-1904), o fundador do sionismo, em um homenagem inédita interpretada como uma reparação à recusa do papa Pio 10º (1835-1914) de apoiar o movimento pela criação de um Estado judeu em 1904.


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