Folha de S. Paulo


Papa Francisco e premiê de Israel divergem sobre língua falada por Jesus

A visita do papa Francisco ao Oriente Médio, nesta semana, deu sequência a uma série de discussões políticas, incluindo o debate a respeito do conflito entre Israel e a população palestina.

Mas na segunda-feira (26) o pontífice e o premiê Binyamin Netanyahu travaram entre eles uma outra disputa: sobre que língua Jesus teria falado, há dois mil anos, ao viver neste território.

De acordo com o relato das agências de notícias, repercutido na mídia regional, Netanyahu disse ao papa Francisco que Jesus "viveu aqui, nesta terra" e "falava hebraico". Assim, o líder israelense reforçava o vínculo entre judaísmo e cristianismo, um dos objetivos de seu governo durante a visita papal.

O pontífice, porém –que veio a Israel para uma peregrinação celebrando a aproximação entre a igreja católica e a ortodoxa, e não o judaísmo–, teria corrigido o premiê e lhe dito que, bem, Jesus na verdade falava aramaico.

Aos olhos dos especialistas, ambos estão corretos, ao que Netanyahu voltou a insistir. "Ele falava aramaico, mas conhecia o hebraico."

Isso porque, segundo historiadores, Jesus viveu durante um período em que a língua franca era o aramaico, mas o hebraico era conhecido pela população, em especial entre as classes mais pobres. Diversos textos religiosos foram escritos nessa língua.

Ambas caíram em desuso, com o passar dos séculos. Enquanto o hebraico foi revivido no início do século 20 pelos esforços do movimento sionista, tornando-se em seguida idioma oficial de Israel, o aramaico só é falado hoje em pequenas comunidades ao redor do Oriente Médio. Em Israel, a população maronita (grupo cristão) ao norte tenta tornar o aramaico mais uma vez uma língua cotidiana, com apoio do governo israelense.

O papa Francisco encerrou na segunda-feira sua passagem pelo Oriente Médio, que incluiu visitas à Jordânia, aos territórios palestinos e a Israel. Ele reuniu-se, durante o período, com o rei jordaniano Abdullah, com o presidente palestino Mahmoud Abbas e com o premiê israelense Netanyahu.

Jesus nasceu, de acordo com a tradição cristã, na cidade de Belém durante o domínio romano de um território hoje chamado de Cisjordânia –atualmente povoado por palestinos e sob ocupação israelense. Ele cresceu em Nazaré, esteve na Galileia e morreu em Jerusalém.


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