Folha de S. Paulo


Erramos: Papa Francisco reunirá palestino e israelense pela paz no Vaticano

O segundo dia da visita do papa Francisco ao Oriente Médio, neste domingo (25), foi marcado por inesperada carga política em seus gestos.

Ele fez um convite inédito para que os presidentes de Israel e da Autoridade Palestina se reúnam no Vaticano.

A oferta foi imediatamente aceita pelo israelense Shimon Peres e pelo palestino Mahmoud Abbas, que devem se encontrar em 6 de junho.

Eles haviam se reunido no ano passado, em Amã, mas essa será a primeira ocasião com uma interferência papal.

Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, disse que o convite é formal e tem por intuito reunir os líderes para falar sobre a paz em sentido religioso. Não estão claras as implicações políticas. O cargo de Peres é cerimonial -o chefe de governo é o premiê Binyamin Netanyahu, que tem feito pouco para dialogar com os palestinos.

O convite aos presidentes foi um entre os gestos ousados do pontífice neste domingo. A caminho da missa em Belém, onde se acredita que Jesus Cristo tenha nascido, ele desceu de seu papamóvel -sem vidros blindados- para rezar diante da barreira de concreto que separa Belém de Jerusalém. Ao encostar a cabeça no muro, ele criou uma forte imagem à região.

A barreira foi construída há dez anos por Israel durante os anos de frequentes atentados terroristas em seu território. O muro, porém, tem sido criticado por palestinos e pela comunidade internacional devido à desapropriação de terra e ao prejuízo ao livre movimento ali.

Durante a missa ao lado da igreja da Natividade, o papa referiu-se à Cisjordânia como "Estado Palestino", entidade que Israel não reconhece.

"Por décadas, o Oriente Médio conheceu as consequências trágicas de um conflito que infligiu tantas feridas difíceis de curar", afirmou Francisco, durante encontro com Abbas.

'POBRE PAPA'
O papa foi recebido por uma multidão em Belém. Ao passar em seu papamóvel, foi saudado por gritos de "viva el papa!" em espanhol. Uma peregrina brasileira gritou: "o pobre papa!".

O palco montado para a missa tinha, ao fundo, a imagem de três papas visitando um menino Jesus enrolado em um pano tradicional palestino, o "kefiyeh".

Em discurso, o pontífice lamentou o sofrimento das crianças no mundo e perguntou-se se "somos como Maria e José", que cuidaram de Jesus, ou "como Herodes, que queria eliminá-lo".

O palestino Mahmoud Abbas assistiu à cerimônia com um bonezinho oficial da visita do papa.

"É uma emoção única", disse à Folha o pernambucano Severino Júnior, missionário em Jerusalém. Ele viajou a Belém para ver o pontífice.

"Não tive a oportunidade de ver o papa no Brasil, mas estou aqui na Terra Santa", afirmou Jaderson Dantas, do Rio Grande do Norte, que carregava três bandeiras: a palestina, a do Vaticano e a do Brasil.

Vestido como Jesus, o canadense James Joseph -conhecido na internet como "Jesus Guy"- disse à reportagem ter esperança de que a visita de Francisco transforme a região. "Esse é o papa mais 'cool' ('legal')."

ISRAEL
Após a missa, o papa seguiu para Israel, onde foi recebido pelo presidente, Shimon Peres, e pelo premiê, Binyamin Netanyahu.

O papa condenou ali o ataque a um museu judaico em Bruxelas, neste sábado (24), onde quatro morreram, incluindo dois israelenses. Ele referiu-se às mortes como "crime de ódio antissemita" (leia mais na página A14).

No fim do dia, o pontífice participou de uma celebração ecumênica na Igreja do Santo Sepulcro, no coração da cidade antiga de Jerusalém. Ali, ele celebrou os 50 anos do aperto de mãos entre o papa Paulo 6º e o patriarca ortodoxo Atenágoras.

Esse evento foi apresentado como a razão de sua peregrinação à região.

O Santo Sepulcro marca o local de crucificação e sepultamento de Jesus. Ali, Francisco rezou ao lado do patriarca Bartolomeu.

O papa Francisco encerra seu tour nesta segunda-feira (26). Ele visita os entornos da mesquita de Al-Aqsa e o Muro das Lamentações, locais sagrados para muçulmanos e judeus, respectivamente.


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