Folha de S. Paulo


À espera de resultado oficial, Poroshenko diz que vai dialogar com a Rússia

O magnata Petro Poroshenko, 48, já se declarou vitorioso na eleição presidencial da Ucrânia após pesquisa de boca de urna apontar que ele obteve pelo menos 55% dos votos.

Em seu primeiro discurso, ele anunciou que defenderá diálogo com a Rússia, país com o qual a Ucrânia vem enfrentando grave crise política. Citou como modelo de negociação as conversas realizadas em abril em Genebra que envolveram os dois países, além de Estados Unidos e União Europeia.

Sergey Dolzhenko/EFE
O candidato à presidência da Ucrânia, Petro Poroshenko, e Marina, sua mulher, votam em Kiev
O candidato à Presidência da Ucrânia, Petro Poroshenko, e Marina, sua mulher, votam em Kiev

O novo presidente ucraniano, porém, reafirmou que não reconhecerá a anexação da Crimeia, península que pertencia à Ucrânia, por Moscou. Disse ainda que pretende anistiar os separatistas do leste que desistirem da luta armada contra as forças de Kiev —com exceção dos que mataram ucranianos, disse.

Pesquisa de boca de urna divulgada após a votação indica que o magnata será eleito em primeiro turno —ele teria obtido de 55,9% a 56,4% dos votos, bem à frente da segunda colocada, a ex-primeira-ministra Yulia Timoshenko, 53, que aparece com 13%. Ela, aliás, já reconheceu a derrota.

A eleição foi encerrada às 20h do horário local (14h, em Brasília). Os primeiros resultados oficiais devem ser divulgados ainda neste domingo.

Poroshenko será o presidente responsável por tirar a Ucrânia de uma crise que já leva seis meses, quando começaram os protestos que levaram à queda, em fevereiro, do então presidente Viktor Yanukovich.

Apontado como um dos principais nomes da oligarquia ucraniana, Poroshenko tem o apelido de "Rei do Chocolate", por ser dono da principal marca do ramo no país - ainda é proprietário de um importante canal de televisão.

A eleição no leste da Ucrânia ocorreu com baixíssima adesão, sendo que praticamente não houve votação na cidade de Donetsk. Diante disso, as lideranças políticas da capital Kiev, onde a presença nas urnas foi alta, torcem para que Poroshenko realmente vença seja eleito em primeiro turno, o que, na avaliação de Kiev, seria essencial para o início de medidas de estabilização política.

A VOTAÇÃO

Praticamente nenhuma seção eleitoral na cidade de Donetsk funcionou durante o dia —ao todo, na província, apenas cerca de 426 dos 2.300 seções de votação teriam operado, segundo a Comissão Eleitoral.

O cenário foi confirmado à reportagem da Folha pelo chefe de uma delas, Bodnia Olensii, 24. "Sou responsável pela seção de três mil eleitores e aqui não teve votação. Soube que na cidade não houve nada, só em algumas áreas da Oblast (espécie de província) de Donetsk", disse, nesta manhã.

Dos 35 milhões de eleitores da Ucrânia, cerca de 15% são da região de Donetsk e Lugansk, dois focos dos movimentos separatistas pró-Rússia. Ou seja, o governo ucraniano deve adotar o discurso de que a eleição é legítima porque, apesar do boicote do leste, teria contado com ao menos 75% do quadro de votantes.

A votação foi tranquila em Kiev. A Folha visitou algumas seções eleitorais, uma delas perto da bela Catedral de St. Michael, onde votou, por exemplo, Anna Deaguk, 56, simpatizante de Poroshenko. "Eu estava nos protestos e votei nele porque acho que temos que oficializar logo um presidente', afirmou. Um governo interino está no poder desde a queda de Viktor Yanukovich, aliado dos russos.

Nos últimos dias, separatistas do leste bloquearam zonas eleitorais e desde ontem (24) estão destruindo as urnas. Além disso, crescem todos os dias os relatos de mortos na batalha entre dois lados. Neste domingo, confirmou-se a morte de dois jornalistas, um italiano e um russo, vítimas dos confrontos.

Enquanto no leste a eleição é prejudicada, militantes anti-Rússia ocupam a Praça da Independência, em Kiev. Prometem celebrar o resultado da eleição no local, considerada a mais importante do país desde a independência de 1991.

A tensão na região aumentou após a Rússia anexar em março a península da Crimeia, território até então ligado à Ucrânia, como resposta à queda de Yanukovich da Presidência. O presidente russo, Vladimir Putin, diz que vai reconhecer o resultado da eleição presidencial, mas teme-se que a baixa adesão no leste seja usada por ele para não legitimá-lo.


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