Folha de S. Paulo


Votação no leste é esvaziada e Kiev torce para fim da eleição em primeiro turno

A eleição presidencial no leste da Ucrânia ocorre com baixíssima adesão, sendo que praticamente não há votação na cidade de Donetsk. Diante disso, as lideranças políticas da capital Kiev, onde a presença nas urnas foi alta, torcem para que o magnata Petro Poroshenko, 48, seja eleito em primeiro turno neste domingo (25).

A definição do novo presidente sem um segundo turno, dizem forças políticas de Kiev, seria essencial para o início de medidas de estabilização contra a crise instalada desde a derrubada de Viktor Yanukovich da Presidência, em fevereiro.

Sergey Dolzhenko/EFE
O candidato à presidência da Ucrânia, Petro Poroshenko, e Marina, sua mulher, votam em Kiev
O candidato à Presidência da Ucrânia, Petro Poroshenko, e Marina, sua mulher, votam em Kiev

Praticamente nenhuma seção eleitoral na cidade de Donetsk funcionou durante o dia —ao todo, na província, apenas cerca de 426 dos 2.300 seções de votação estariam funcionando, segundo a Comissão Eleitoral.

O cenário foi confirmado à reportagem da Folha pelo chefe de uma delas, Bodnia Olensii, 24. "Sou responsável pela seção de três mil eleitores e aqui não teve votação. Soube que na cidade não houve nada, só em algumas áreas da Oblast (espécie de província) de Donetsk", disse, nesta manhã.

Dos 35 milhões de eleitores da Ucrânia, cerca de 15% são da região de Donetsk e Lugansk, dois focos dos movimentos separatistas pró-Rússia. Ou seja, o governo ucraniano adotaria o discurso de que a eleição é legítima porque, apesar do boicote do leste, contaria com ao menos 75% do quadro de votantes.

Até a tarde deste domingo (o fuso é de seis horas a mais do que no Brasil), a votação estava tranquila em Kiev —por volta das 15h, cerca de 40% dos eleitores já haviam comparecido. As urnas fecham às 20h no horário local (14h, no Brasil). O resultado oficial deve ser divulgado somente nesta segunda (26), mas há uma expectativa de que ainda nesta noite as autoridades informem se Poroshenko deve ou não levar no primeiro turno.

A Folha visitou algumas seções eleitorais em Kiev, uma delas perto da bela Catedral de St. Michael, onde votou, por exemplo, Anna Deaguk, 56, simpatizante de Poroshenko. "Eu estava nos protestos e votei nele porque acho que temos que oficializar logo um presidente', afirmou. Um governo interino está no poder desde a queda de Viktor Yanukovich, aliado dos russos, em fevereiro.

Nos últimos dias, separatistas do leste bloquearam zonas eleitorais e desde sábado (24) estão destruindo as urnas. Além disso, crescem todos os dias os relatos de mortos em confrontos entre os dois lados. Neste domingo, confirmou-se a morte de dois jornalistas, um italiano e um russo, que estavam desaparecidos.

Enquanto no leste a eleição é prejudicada, militantes anti-Rússia ocupam a Praça da Independência, em Kiev. Prometem nesta noite celebrar o resultado da eleição no local, considerada a mais importante do país desde a independência de 1991.

As pesquisas ainda não garantem o prognóstico de vitória imediata de Poroshenko, conhecido como "Rei do Chocolate", por ser dono de uma marca local. O magnata aparece com chances de obter mais de 50% e atrás dele, com cerca de 10%, está Yulia Timoshenko, ex-primeira ministra.

A tensão na região aumentou após a Rússia anexar em março a península da Crimeia, território até então ligado à Ucrânia, como resposta à queda de Yanukovich da Presidência. O presidente russo, Vladimir Putin, diz que vai reconhecer o resultado da eleição presidencial, mas teme-se que a baixa adesão no leste seja usada por ele para não legitimá-lo.


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