Folha de S. Paulo


Separatistas ucranianos decidem realizar referendo no domingo

Apesar do apelo público do presidente russo, Vladimir Putin, o grupo de separatistas das regiões ucranianas de Donetsk e Lugansk decidiu manter o referendo de independência marcado para o próximo domingo.

O governo da Ucrânia, apoiado por Estados Unidos e União Europeia, não reconhece essa consulta e já avisou que vai manter a operação de combate aos ativistas pró-Rússia no leste do país, batizada de "antiterror".

Kiev declara como oficial apenas a eleição presidencial de 25 de maio, convocada após a queda, em fevereiro, do então presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, aliado dos russos.

Putin pediu na quarta o adiamento do referendo separatista e, num raro gesto, demonstrou apoio à eleição do dia 25.

O dirigente russo ainda anunciou a retirada de tropas da fronteira com a Ucrânia.

O governo ucraniano, que acusa a Rússia de estar por trás dos separatistas, considerou o movimento de Putin uma "piada".

Então questionados, os ativistas pró-Moscou anunciaram que respeitam o pedido de Putin, mas adotaram o discurso de que a decisão de adiar o referendo não cabe a eles, mas à população local.

"Nós apenas somos a voz das pessoas e demonstramos suas ações", disse um dos porta-vozes do grupo, Denis Pushilin, segundo relato das agências de notícias.

Não está claro ainda como será feita essa consulta nem se haverá algum tipo de fiscalização.

Sabe-se apenas que a população vai responder se apoia ou não a "república popular de Donetsk", declarada pelos separatistas no mês passado após a ocupação de prédios públicos na região.

Os militantes pró-Moscou de Lugansk, outro foco de divisão política, também mantiveram a votação de domingo. Nesta quinta, aliás, houve novos relatos de confrontos na cidade entre separatistas e tropas ucranianas.

PESQUISA

O debate sobre o referendo de domingo ocorre em meio a uma pesquisa divulgada nesta quinta mostrando que 77% dos ucranianos apoiam a manutenção do país unido, ou seja, se declaram contra a separação do leste.

Segundo o levantamento, feito pelo instituto americano Pew Research Center, 14% concordam com algum tipo de separação. Ao todo, 1.700 mil pessoas foram ouvidas.

A pesquisa foi feita depois da anexação da península da Crimeia pela Rússia, mas antes da intensificação da crise no leste da Ucrânia na sexta passada, quando mais de 40 pessoas morreram num incêndio em um edifício na cidade de Odessa.

As opiniões variam de acordo com a origem dos entrevistados.

Os números demonstram que 93% dos ucranianos consultados que vivem no oeste do país, onde fica a capital Kiev, defendem a integridade do território.

Essa fatia cai para 70% entre os moradores do leste, justamente o foco da crise. A pesquisa diz ainda que 67% dos ucranianos orientais estão infelizes com o novo governo de Kiev.


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