Folha de S. Paulo


Jornal venezuelano reduz páginas e acusa governo por falta de papel

O jornal "El Universal", um dos mais tradicionais da Venezuela, voltou a reduzir nesta segunda-feira o número de páginas em consequência da falta de papel provocada por um atraso nos trâmites de importação pelo governo, afirma a publicação.

"O curioso atraso na Autorização de Aquisição de Divisas (responsabilidade do Centro Nacional de Comércio Exterior) não permitiu nacionalizar um carregamento de papel jornal de propriedade do "El Universal" que se encontra desde janeiro no porto de La Guaira", denunciou o jornal, que reduziu suas edições a 16 páginas e deixará algumas seções apenas na internet.

Diversos veículos do país têm sofrido com a escassez da matéria-prima, devido à fuga de dólares do país e do controle da moeda estrangeira pelo governo. Opositores acusam o presidente, Nicolás Maduro, de estar aproveitando o desabastecimento para prejudicar veículos de imprensa críticos ao governo.

Maduro praticamente bloqueou no último ano a entrega de divisas para importações consideradas "não prioritárias" e inclusive atrasou as de produtos básicos, o que gerou um forte desabastecimento.

Por falta de papel, mais de dez jornais da Venezuela fecharam as portas, se limitaram às edições digitais ou reduziram o número de páginas.

Para obter o papel-jornal, as empresas devem pedir ao Cadivi (Comissão de Administração de Divisas) permissão para comprar dólares. Além disso, é necessário obter uma autorização que justifique a compra do produto importado. Desde 2003, há um controle estatal do câmbio que impede a livre compra e venda de divisas, administradas exclusivamente pelo órgão.

No mês passado, três importantes jornais (El Nacional e El Nuevo País de Caracas, além do El Impulso de Barquisimeto) receberam um empréstimo de 52 toneladas de papel enviados pela Associação Colombiana de Editores de Jornais e Meios Informativos (Andiarios).

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) já denunciou algumas vezes as atitudes do governo venezuelano, que para a organização constituem um ataque à liberdade de imprensa. O governo continua apostando "no fechamento dos jornais, por meio da sutil medida de negar as divisas para que assim não possam importar papel e outros insumos que não são produzidos na Venezuela", denunciou Claudio Paolillo, presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa.

CRISE

A Venezuela, país com as maiores reservas de petróleo do mundo e que fatura quase 100 bilhões de dólares por ano com exportações de petróleo, tem dívidas de importação e com empresas de serviços de quase 13 bilhões de dólares.

Isto tem provocado a falta de alimentos básicos, como açúcar ou óleo e produtos de limpeza e higiene pessoal, mas também de insumos industriais, de artigos de luxo e a restrição na oferta de passagens nas linhas aéreas, que reclamam dívidas de 3,9 bilhões de dólares.

Também nesta segunda, uma pesquisa apontou que 59,2% dos venezuelanos avaliam de forma negativa a gestão do presidente Maduro, e uma porcentagem quase idêntica, 59,1%, estima que deve deixar o cargo antes do fim de seu mandato em 2019.

A pesquisa do Datanálisis, publicada no jornal "El Universal", indicou que oito em cada dez venezuelanos pensam que a situação no país é negativa.


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