Folha de S. Paulo


Inacabado, aeroporto em Berlim vira exemplo de rara ineficiência alemã

Nos primórdios da aviação, era comum as pessoas visitarem aeroportos só para ver aviões pousando e decolando.

O novo aeroporto de Berlim está atraindo turistas pelo motivo oposto: a falta de passageiros e aviões, após uma sequência de atrasos e confusões que levaram seu custo a ultrapassar o orçamento previsto em bilhões de dólares e adiaram sua abertura por tempo indeterminado.

Parte da atração parece ser a oportunidade de ver em primeira mão a prova de que a Alemanha, praticamente sinônimo de precisão e eficiência, pôde fracassar de tal maneira.

Previsto para começar a operar em novembro de 2011, o aeroporto Willy Brandt de Berlim-Brandemburgo começou a oferecer visitas públicas ao canteiro de obras desde o início da construção, em 2006.

Desde então, segundo Ralf Kunkel, um representante do aeroporto, 1 milhão de pessoas já fizeram o tour.

No ano passado, uma agência de viagens começou a oferecer pacotes de viagem: duas noites em um hotel dos arredores e uma visita ao aeroporto em um ônibus de turismo de dois andares.

Num domingo recente, 16 turistas, cada um tendo pago US$13,50 (R$ 30,24), e sua guia, Elisa Naundorf, foram até a Infotower do aeroporto, uma torre triangular de 32 metros de altura com um deque de observação ao alto e um museu e loja de presentes no térreo.

Antes de subir os 171 degraus da torre, as pessoas podem comprar bolas de praia, bonés de beisebol, guarda-chuvas e pen drives, todos com logotipo do aeroporto.

A partir do deque viam-se lonas grandes cobrindo uma pista de pouso inativa, estacionamentos vazios e quatro jatos aposentados.

Os visitantes ouvem que os construtores do aeroporto recorrem a vários meios para impedir que a infraestrutura se atrofie. Todos os dias úteis às 10h26 a empresa ferroviária Deutsche Bahn envia trens de metrô vazios para fazer o ar circular e evitar que os trilhos não enferrujem.

Os alemães ficam curiosos para ver como o dinheiro de seus impostos está sendo gasto, após relatos de que o aeroporto vazio consome mais eletricidade por dia que o aeroporto Tegel, de Berlim, ainda em operação, com mais de 400 voos diários, e que os custos de limpeza do terminal principal, vazio, chegam a US$ 200 mil (R$ 448 mil) mensais.

"Estive aqui um ano atrás", comentou o estudante de direito Felix Ritter, 20. "Desta vez queria ver se alguma coisa mudou. Isto foi muito mal administrado. É um enorme desperdício de dinheiro."

O projeto pode custar US$5,8 bilhões (R$ 12,99 bilhões) -US$ 1,6 bilhão (R$ 3,58 bilhões) além do previsto, segundo Ralf Kunkel.

Os participantes da visita recente quiseram saber por que as centenas de problemas que adiaram a abertura -uma delas é um sistema deficiente de segurança contra incêndios- não foram resolvidos antes e quem foi o responsável pela má gestão da obra.

Através da fachada de vidro do terminal principal, os visitantes podiam ver balcões de check-in e telas de computador envoltas em plástico. Escoras se empilhavam ao lado de cones de construção.

Hartmut Medorn, presidente da empresa responsável pela construção do aeroporto, diz esperar concluir a construção e os reparos necessários até o fim do ano.

Mas as pessoas que visitavam a obra expressaram dúvidas. "Sou otimista", disse Ritter. "Mas não em relação a este aeroporto."

Tradução de CLARA ALLAIN


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