Folha de S. Paulo


Crise política impulsiona fujimorismo

Dois ex-presidentes sendo investigados (Alan García e Alejandro Toledo) e um preso e condenado a 25 anos de cadeia (Alberto Fujimori). Enquanto isso, a primeira-dama, Nadine Heredia, é acusada pela oposição de ingerência nos assuntos de Estado, e o atual mandatário, Ollanta Humala, tem apenas 24% de aprovação.

A dois anos da próxima eleição presidencial, o Peru enfrenta uma série crise política e vê o fujimorismo, força que alguns julgavam condenada à morte, voltando a expandir sua influência.

Pesquisa divulgada no último fim de semana aponta Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori (1990-2000), com 26% das intenções de voto, seguida do ex-ministro da Economia Pedro Pablo Kuczynski, com 15%, e do ex-presidente Alan García (1985-90/2006-11), com 10%. No Peru, presidentes têm mandatos de cinco anos e não podem se candidatar à reeleição logo depois.

"O fujimorismo sempre esteve à espera de um momento para voltar, e suas bandeiras são muito fortes, uma vez que têm como trunfo ter dado estabilidade política ao país, recuperação econômica e vencer a batalha contra a guerrilha, pelo menos num primeiro momento", diz o economista Humberto Campodônico.

As razões da queda de popularidade de Humala passam pela sensação de insegurança e pela ineficiência do governo em melhorar a distribuição de renda num país que tem um dos melhores desempenhos econômicos na América Latina.

Segundo o diretor da Ipsos Peru, Alfredo Torres, a violência é o problema que mais preocupa os peruanos.

No último mês, Humala teve de lidar diretamente com os distúrbios na província de Áncash, um conflito que envolve corrupção e a criação de milícias locais. O governador da província, Cesar Álvarez é acusado de estar por trás de dez assassinatos.

A base de apoio partidária que Humala armou para vencer, por uma pequena diferença de votos, a Keiko Fujimori, em 2011, se diluiu. No Congresso, o governo possui apenas 43 das 130 cadeiras. O principal motivo de desgaste com os parlamentares peruanos é a excessiva presença de Nadine Heredia nas decisões do governo.

"Ela deu as cartas até agora, manejou as trocas de gabinetes, apoiada pela imagem positiva que tinha entre os peruanos. A questão é que agora passou dos limites", diz David Rivera, editor da revista "Poder".

GABINETE

Humala acaba de trocar pela quinta vez seu gabinete ministerial, em pouco menos de dois anos e meio de governo. Para aprovar essa última mudança, o Congresso colocou muitos obstáculos e só cedeu quando o Nobel de literatura e ex-candidato presidencial, Mario Vargas Llosa, intercedeu a favor da mudança, alertando para o risco de o país cair em uma "nova ditadura".

"O Peru padece de uma debilitação de suas instituições políticas e seus partidos", diz o professor de Harvard Steven Levitsky, especialista em política peruana.

"As pessoas passaram a pedir uma administração mais objetiva, menos ideológica. Mesmo com essa aprovação baixíssima, Humala ainda é quase um recordista entre os que governaram o Peru após a ditadura. É preciso lembrar de casos como o de Alejandro Toledo (2001-2006), que chegou a ter apenas 8% de aprovação", diz.

CARISMA

Tentando alcançar Keiko Fujimori nas pesquisas está o ex-presidente Alan García, ainda com muito carisma popular, apesar de acusações de corrupção e de pacto com o narcotráfico.

Já Alejandro Toledo, investigado por lavagem de dinheiro, iniciou campanha para eleger governadores e fortalecer seu partido como uma alternativa de centro.

Num cenário de descrença nos líderes democráticos, Fujimori encontra espaço para recuperar protagonismo.

Mesmo preso e doente (tem um câncer na garganta), atua por meio de mensagens de Twitter e de vídeos.

"Os pobres, de um modo geral, ainda gostam muito de Fujimori, pelo fim da violência no interior, enquanto um setor mais conservador também o apoia em resposta aos desmandos da democracia", diz Rivera.


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