Folha de S. Paulo


Apesar de avalanche, brasileiro diz que vai tentar escalar Everest

O alpinista brasileiro Rosier Alexandre, 45, acordou com um estrondo no início da manhã de sexta-feira no Acampamento Base do monte Everest, a 5.360 metros de altitude.

Uma hora depois, numa reunião convocada no local, lhe contaram que havia ocorrido uma avalanche, a qual havia matado três guias locais de sua equipe. O acidente, o mais fatal já ocorrido na montanha, deixou ao menos 13 mortos, todos sherpas, que trabalham como guias para os alpinistas estrangeiros.

"Daqui do acampamento base ficamos vendo os trabalhos de resgate. Os corpos encontrados eram trazidos de helicóptero. Não pudemos fazer nada, foi traumático", disse Alexandre à Folha, por e-mail.

Divulgação
O alpinista brasileiro Rosier Alexandre, 45, no Acampamento-Base Sul do monte Everest
O alpinista brasileiro Rosier Alexandre, 45, no Acampamento-Base Sul do monte Everest

A avalanche aconteceu na região da geleira de Khumbu, um dos locais mais perigosos de uma das rotas mais utilizadas por alpinistas –e a mesma que Alexandre pretende percorrer– para chegar ao topo da montanha mais alta do mundo.

A geleira fica pouco acima do Acampamento Base, a cerca de 5.800 metros de altitude, no caminho para o Acampamento 2. A mesma rota foi utilizada na primeira escalada bem-sucedida comprovada ao topo, de Edmund Hillary e Tenzing Norgay, em 1953.

Segundo Alexandre, os sherpas de sua equipe que morreram na avalanche eram experientes.

"Eram três sherpas auxiliares de acampamento, responsáveis por subir na frente, montar acampamento, cozinhar, etc. Trabalhava com eles desde o início da expedição", afirma. "Eles conheciam muito bem a montanha. O que ocorreu foi uma fatalidade."

CANCELAMENTOS

O alpinista brasileiro diz que ainda não ficou sabendo, no Acampamento Base, de expedições canceladas devido à tragédia, mas que esta "é uma possibilidade real". "Os próximos dias serão decisivos, estamos na mão dos sherpas que sobreviveram."

Alexandre está na primeira etapa de aclimatação à altitude desde quando chegou ao local, no último dia 4, e planeja seguir adiante no dia 14 de maio.

O Everest é a última montanha que o brasileiro tem de escalar para conquistar o topo dos chamados Sete Cumes, as sete montanhas mais altas de cada continente, contando separadamente as Américas do Sul (Aconcágua) e do Norte (monte McKinley).

Apesar de ser a montanha mais alta do mundo em relação ao nível do mar, e incluir, portanto, a chamada "zona da morte" da escalada –área acima de 8.000 metros, onde frio e o ar rarefeito dificultam a tomada de decisões racionais–, o Everest é uma das montanhas mais exploradas pelo turismo.

Os guias sherpas locais, como os que morreram na avalanche da última sexta, facilitam a escalada de alpinistas estrangeiros, inclusive amadores, carregando equipamentos, cozinhando, instalando cordas e indicando as rotas.

EXPLORAÇÃO

A exploração comercial da montanha tem sido alvo de críticas de boa parte da comunidade do alpinismo.

O assunto foi alvo de grande repercussão em 1996, quando uma forte nevasca próxima ao topo matou oito integrantes de expedições diferentes que tentavam chegar ao cume, até então o pior acidente registrado no Everest.

Os eventos foram registrados pelo jornalista Jon Krakauer no livro "No Ar Rarefeito", que se tornou um best-seller.


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