Folha de S. Paulo


Surto de ebola deve demorar até 4 meses para ser controlado, diz OMS

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou nesta terça-feira que precisará de dois a quatro meses para conter uma epidemia "desafiadora" do vírus ebola no oeste da África.

O vírus mortal ainda está se espalhando em três regiões críticas de Guinée Forestière, região do sudeste do país a cerca de 900 km da capital da Guiné, Conacri, cidade que relatou 20 casos até o momento, informou a agência das Nações Unidas.

Saiba mais: vírus do ebola mata até 90% dos que são infectados

"Estamos diante de surtos mais desafiantes os quais tivemos que enfrentar até o momento. Começou na Guiné, já se expandiu até a Libéria, e há vários focos. O fato de que seja em diferentes localidades complica seu controle", advertiu em entrevista coletiva o diretor-geral adjunto para Segurança Sanitária da OMS, Keiji Fukuda.

Até o momento foram detectados 157 casos na Guiné – onde surgiu a primeira confirmação, no dia 22 de março –, dos quais 101 doentes morreram e 67 puderam ser confirmados por testes de laboratório.

Na Libéria, país que faz fronteira com a região sudeste do país, onde primeiro foi detectado o foco, foram identificados 21 casos, dez mortes, e destas, cinco foram confirmadas em laboratório.

A OMS não recomenda viagens a nenhum destes países até o momento. Por enquanto, as suspeitas de casos em outros países da região não se confirmaram.

Em Serra Leoa, dois pacientes dos quais se suspeitava deram negativo nos testes; no Mali, se duvida de quatro pacientes doentes, dois dos quais ficaram descartados com os testes de laboratório, e de outros dois se está à espera dos resultados; e em Gana todos os casos suspeitos foram descartados.

O principal problema do ebola é que é uma doença altamente contagiosa, que não tem tratamento específico e com taxas de mortalidade que chegam a 90%, embora por enquanto, a porcentagem de pacientes infectados e que morreram está em torno de 65%.

O contágio acontece através do contato direto com o sangue e com os fluidos e tecidos corporais das pessoas ou animais infectados.

Outro dos aspectos que complicam o controle deste surto é o fato de que tenha surgido na África Ocidental, uma região onde a doença não tinha aparecido antes.

Este fato, explicou Fukuda, é em certo sentido negativo, não só pelo fato de que o vírus tenha se expandido, mas porque não há conhecimento geral do mesmo, nem médico nem entre a população, o que contribui para o pânico.

PREPARO

Uma boa notícia é o fato de que entre os 50 especialistas enviados pela OMS à Guiné se encontram vários médicos de Uganda, República Democrática do Congo (RDC) e Gabão, países que sofreram surtos anteriormente e sabem como agir para combatê-lo.

O terceiro aspecto "desafiante" destacado por Fukuda são "os rumores gerados" e que dificultam o controle epidemiológico ao surgir falsos alarmes, ou ao contrário, ao esconder casos por medo de discriminação.

Finalmente, o quarto aspecto que contribui para dificultar o controle é que a doença tenha chegado à capital, onde os contatos entre as pessoas são mais assíduos e, sobretudo, podem ocorrer com desconhecidos, o que dificulta enormemente a tarefa de rastrear a trajetória do vírus.

Além disso, a agência das Nações Unidas assumiu que, até o momento, as autoridades de saúde foram "passivas" ao detectar os casos depois de os pacientes terem sido levados para os hospitais.

"Deveríamos insistir que os trabalhadores de saúde sejam os que vão as comunidades para tentar detectar os casos", afirmou Stéphane Hugonnet, médico da OMS, e que acaba de voltar da Guiné.

Hugonnet assumiu que, dada a experiência em outros surtos de ebola, espera-se que surjam casos durante os próximos quatro meses.

"O que não quer dizer que assim aconteça, só que há uma possibilidade de que apareçam", especificou Hugonnet, que por sua vez, destacou que é "bastante fácil parar as transmissões" se a população tomar consciência das medidas necessárias para evitar o contágio.

Por enquanto, as pessoas que estão mais em perigo de contrair a doença são os trabalhadores de saúde, os familiares dos doentes, e as pessoas que participam de funerais e que entram em contato com o corpo do falecido.

Até o momento, a maior epidemia de ebola foi a de Uganda, no ano 2000, quando 425 pessoas contraíram a doença.

O período de incubação do vírus é de entre dois e 21 dias, é por isso que a OMS poderá falar de controle do surto somente depois de 42 dias sem que se tenha detectado nenhum novo caso, um cenário que por enquanto não se vislumbra a curto prazo.


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