Folha de S. Paulo


Deputada cassada da Venezuela compara Maduro a ditadura e questiona omissão dos vizinhos

A deputada cassada venezuelana María Corina Machado comparou o governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro com a ditadura militar brasileira (1964-1985), fazendo referência aos 50 anos do golpe militar, durante audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado nesta quarta-feira (2).

Corina também comentou a falta de apoio dos países vizinhos diante da crise na Venezuela.

"Nossos Estados são signatários da carta democrática interamericana, que estabeleceu compromissos coletivos entre os países deste hemisfério para a defesa da democracia na região. Para os venezuelanos é incompreensível ver como os países da América Latina foram tão ativos com crises politicas como no Paraguai e Honduras e, frente ao ocorrido na Venezuela, nos dão as costas. O que tem que ocorrer? Quantas mais violações aos direitos humanos, quantos mais venezuelanos assassinados para que os democratas do hemisfério escutem nossa voz?", questionou.

Sérgio Lima/Folhapress
María Corina Machado e o Senador Aécio Neves na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional
María Corina Machado e o Senador Aécio Neves na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional

"Estamos vivendo um regime sem escrúpulos que não se deteve para calar as vozes dos cidadãos", disse.

"Pelas circunstâncias da vida venho por acaso na hora em que seu país completa 50 anos do início da ditadura. Sei que ficaram muitos sentimentos dolorosos para sua pátria, como das famílias destruídas, das torturas. Isso nos une, porque é precisamente o que a Venezuela está vivendo agora", afirmou, logo no início de seu discurso.

Um grupo de cerca de dez manifestantes do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores) protestou no início da audiência, aos gritos de "golpista", e impediram-na de falar. Eles foram retirados da sala pelos seguranças do Senado.

A deputada cassada afirmou que a atual onda de protestos na Venezuela é um "movimento cívico inédito", ao qual o regime de Maduro "tomou a decisão de reprimir brutalmente", comparando-o novamente às ditaduras do século 20 na América Latina.

Segundo ela, nestas oito semanas de protestos houve mais de 2.000 presos, 700 feridos, 62 casos de tortura e 115 denúncias de jornalistas agredidos e detidos. Corina pediu ajuda ao Brasil na solução da crise na Venezuela.

DESTITUIÇÃO

Na semana passada, o presidente do Legislativo venezuelano, o chavista Diosdado Cabello, anunciou a destituição da deputada por ter ido à OEA (Organização dos Estados Americanos) supostamente como representante do Panamá, contrariando artigo da Constituição que exige uma autorização prévia do Parlamento.

Corina nega a irregularidade e afirma que foi à OEA na condição de deputada, versão corroborada pelo secretário-geral da organização, o chileno José Miguel Insulza. Na audiência em Brasília, Corina afirmou que sua destituição foi ilegal e que ainda se considera deputada.

"A única maneira de destituir [um deputado] é por morte, renúncia, referendo revocatório ou sentença de um tribunal depois da garantia de defesa. Nada disso ocorreu, portanto sou deputada", disse.

A ex-deputada está no país a convite do senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) sugeriu que seja convidada a deputada Blanca Eekhout para falar em nome do governo venezuelano.

Durante a audiência, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) afirmou que vai propor um voto de repúdio ao governo Maduro.


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