Folha de S. Paulo


Análise: Mudança é o primeiro passo para reordenação do governo

O presidente francês, François Hollande, demitiu seu primeiro-ministro, Jean-Marc Ayrault, em um esforço para reanimar sua combalida administração depois da pesada derrota sofrida por seu partido nas eleições municipais do final de semana.

Em uma decisão audaciosa, apontou Manuel Valls, seu combativo ministro do Interior, nascido na Espanha, como sucessor na chefia do governo socialista, que está cambaleando depois da pior derrota eleitoral do partido em anos.

Esse é o primeiro passo em uma reordenação completa do governo, com grandes mudanças esperadas também no Ministério das Finanças, chefiado por Pierre Moscovici.

Valls é da ala direita do Partido Socialista e, no passado, propôs que a agremiação removesse a palavra "socialista" de sua designação.

Ele se autodefine como reformista em termos econômicos e adotou a linha-dura quanto à imigração e ao crime, como ministro do Interior, o que incluiu forçar a deportação de ciganos ilegais.

Sua indicação acarreta risco de causar inquietação na esquerda socialista e entre os aliados do governo no movimento ecológico, que se opunham às posições de Valls no Ministério do Interior.

Mas Hollande, que tem os mais baixos índices de aprovação de um presidente francês desde a Segunda Guerra Mundial, espera que Valls, o mais popular ministro de seu governo, ajude a salvar sua Presidência, iniciada dois anos atrás.

Caberá a Valls conduzir o recente pacote de reformas pró-mercado de Hollande por meio do voto de confiança do Legislativo, que deve acontecer no fim de abril.

Valls nasceu em Barcelona, se radicou na França com seus pais quando criança e se naturalizou cidadão francês apenas em 1982. Mas é um veterano do Partido Socialista.

Sua postura reformista tem muito em comum com a "terceira via", a abordagem adotada pelo ex-presidente americano Bill Clinton e pelo ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair. Hollande espera que Valls ponha fim às gafes de comunicação que vêm abalando o presidente e que prejudicaram Ayrault.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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