Folha de S. Paulo


Ativistas da Sardenha pedem venda de ilha à Suíça

Na Itália, inquietações regionalistas e campanhas separatistas esporádicas nada têm de novidade. Mas o espírito de secessão jamais se manifestou da maneira que um pequeno grupo de ativistas vem advogando na Sardenha.

Enfurecidos diante de um sistema que eles dizem ter desperdiçado o potencial econômico da região e reduzido o poder dos cidadãos comuns, eles querem que Roma venda sua ilha para a Suíça.

"As pessoas riem quando dizemos que deveríamos nos tornar parte da Suíça. E era de esperar que o fizessem", diz Andrea Caruso, co-fundador do movimento Canton Marittimo.

Embora muita gente possa ter descartado a proposta como piada, seus proponentes insistem em que estão falando sério. "A loucura não está em fazer esse tipo de sugestão", diz Caruso. "A loucura está em como as coisas são agora".

A Sardenha, uma das cinco regiões autônomas da Itália, já tem forte identidade própria. O escritor britânico D. H. Lawrence, depois de uma visita à ilha em 1921, a descreveu como "pertencente a lugar algum, sem nunca ter pertencido a lugar nenhum".

Para uma minoria dos sardos, a independência continua a ser a melhor oportunidade de sucesso para a ilha. Caruso, 50, e Enrico Napoleone, 50, amigos desde a época da escola e fundadores do Canton Marittimo, discordam. "Pensamos na Suíça como uma boa professora que poderia nos colocar no caminho da excelência", diz Caruso, dentista em Cagliari.

27º CANTÃO

Como 27º cantão da Suíça, o argumento deles propõe, a Sardenha conferiria ao país alpino quilômetros e mais quilômetros de costas deslumbrantes e potencial econômico inexplorado. A Sardenha reteria considerável autonomia, e colheria os benefícios da democracia direta, eficiência administrativa e riqueza econômica de seu novo país.

O fato de que a Suíça não faça parte da União Europeia é "definitivamente positivo", dizem os ativistas. Como muitos italianos, eles já não acreditam na capacidade de Bruxelas para realizar seus sonhos econômicos e culturais, como imaginavam poderia, no passado.

Além de algumas queixas locais específicas, sua frustração com os gastos públicos ineficientes, com a complexidade dos processos decisórios e com a burocracia intimadora é ouvida também no restante do país. No último trimestre do ano passado, o desemprego na Sardenha era de 18,1%, o sexto mais alto na Itália.

De acordo com a Agência Nacional de Estatística Italiana (do italiano Istat) mais de metade dos domicílios da ilha descrevem seus recursos econômicos como "escassos" ou "absolutamente insuficientes".

Desgastados pela procissão de quatro primeiros-ministros em menos de 30 meses, os partidários do movimento Canton Marittimo não têm grande esperança de que o mais recente ocupante do posto, Matteo Renzi, de centro-esquerda, seja capaz de consertar o sistema.

Na Suíça, a proposta foi recebida com alegre espanto. Uma pesquisa online em alemão, respondida por quatro mil pessoas, produziu 93% de votos a favor, quanto à absorção da Sardenha.

Mas em casa, a causa ainda não levou os sardos a saírem em massa à piazza.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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