Folha de S. Paulo


Análise: Sem a caixa-preta, não haverá certeza do que ocorreu, apenas suspeitas e hipóteses

Antes de a caixa preta ter sido encontrada, tudo o que se sabia sobre o desastre do voo 447 da Air France, em 2009, era que os sensores externos de altitude e velocidade haviam congelado sobre uma área de turbulência no oceano Atlântico.

Só depois de achados os gravadores que registram os dados de voo e de voz da cabine, quase dois anos depois, o quadro ficou completo.

Descobriu-se que o computador de bordo deu ordens inconsistentes para a tripulação, que, sem treinamento para manejar o avião em grandes altitudes, não soube reagir –o que fez a aeronave cair até bater no mar.

O exemplo, dado por Adalberto Febeliano, professor de transporte aéreo da Anhembi Morumbi, dá uma boa ideia da importância da caixa preta para determinar o que causou o desaparecimento do Boeing-777 da Malaysia Airlines sobre o oceano Índico.

SEM CERTEZAS

Sem conseguir resgatar o equipamento, o que restam são fragmentos de informação, suspeitas e hipóteses. Certeza, de fato, nenhuma.

Não se sabe qual a velocidade e altitude, se os equipamentos a bordo funcionavam ou não, se houve fogo a bordo ou explosão e, também, quais os comandos do piloto e do copiloto enquanto a aeronave estava em voo.

O pior é que a perspectiva de se achar a caixa-preta não é das mais otimistas. Por enquanto, nem sequer destroços do avião foram encontrados pelos navios e aviões que empreendem as buscas.

No caso da Air France, os primeiros pedaços do Airbus A330 foram vistos dois dias após a tragédia, em junho de 2009. Ainda assim, a corrida pela caixa preta se estendeu até maio de 2011, esforço bancado pelo governo francês.

A favor, há o fato de a caixa preta emitir pulsos captado por sonares, justamente para facilitar a localização. Mas o alcance é limitado; se não houver sonar por perto, muito provavelmente ela seguirá no fundo do mar.

Mesmo com a caixa preta em mãos, uma informação-chave (o que levou o avião a mudar de rota) talvez jamais seja conhecida: o gravador de voz registra as conversas na cabine nos últimos 30 minutos de voo; após sair do seu curso, o Boeing-777 voou por pelo menos cinco horas.


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