Folha de S. Paulo


Ucrânia ordena que tripulação de último navio na Crimeia resista

O Ministério da Defesa da Ucrânia ordenou neste domingo (23) que a tripulação do navio de guerra Konstantin Olshanski, o último sob controle de Kiev na região da Crimeia, resista até o final contra o avanço de forças aliadas da Rússia.

A embarcação é uma das poucas instalações militares que ainda estão em poder da Ucrânia na península, que se anexou à Rússia nesta semana. A incorporação ao território russo aconteceu após um referendo no último domingo, em que 97% do votantes escolheram voltar ao domínio de Moscou.

Baz Ratner/Reuters
Parte da tripulação do Konstantin Olshanski deixa o navio; Ucrânia pediu que soldados resistam
Parte da tripulação do Konstantin Olshanski deixa o navio; Ucrânia pediu que soldados resistam

Segundo o ministro Igor Teniuj, o barco está no lago Donuzlav, a 120 km da capital Simferopol, e é bloqueado por embarcações russas, que cercam a saída do lago ao mar Negro. As tripulações de outros dois navios de guerra da Ucrânia obedeceram às ordens russas e atracaram no litoral.

Teniuj disse que a embarcação está com todo o armamento certo e os marinheiros têm ordens para disparar em caso de ataque. Ele também anunciou que o governo ainda avalia a retirada de militares da Crimeia, em especial os familiares dos soldados.

A perda da estrutura militar na Crimeia provocará graves prejuízos à Ucrânia, em especial na estrutura da Marinha, cujo quartel-general fica em Sebastopol. No sábado (22), a Rússia anunciou que 54 dos 67 navios ucranianos estavam sob controle da região autônoma.

No entanto, foram dominados nas últimas 24 horas a embarcação Slavutich, uma das principais da Ucrânia, e o único submarino na região, o Zaporozhiye. Embora não tenha reconhecido a anexação da Crimeia, o governo ucraniano não reagiu de forma concreta à ocupação de bases e navios.

A falta de rumo foi motivo de críticas dos comandantes das Forças Armadas. Segundo o Ministério da Defesa da Rússia, 189 instalações militares ucranianas na Crimeia já passaram para as mãos do país, assim como a maioria dos 18 mil soldados na região.

Neste domingo, milicianos aliados da Rússia tomaram o controle do Centro de Operações Psicológicas e de Informação da Marinha da Ucrânia, em Simferopol, uma das últimas unidades ainda leais a Kiev na região autônoma.

RISCO DE GUERRA

Para o ministro de Relações Exteriores ucraniano, a situação da Crimeia e a mobilização de tropas russas na fronteira perto do leste da Ucrânia aumentam o risco de guerra entre os dois países.

"Se as tropas russas invadirem as regiões do leste da Ucrânia, será difícil pedir aos ucranianos que vivem lá que não reajam a essa invasão militar", disse.

Outro membro do governo, o secretário do Conselho de Segurança Nacional, Andriy Parubiy, disse que as tropas russas estão preparadas para atacar a qualquer momento. A mesma preocupação foi manifestada pela Otan.

O comandante militar da aliança ocidental, o americano Phillip Breedlove, acusou os russos de enviar um número exagerado de soldados para exercícios. O vice-ministro da Defesa russo, Anatoly Antonov, nega e afirma que o contingente usado está de acordo com as normas internacionais.

A tensão militar provoca preocupação dos Estados Unidos e da União Europeia. Mais cedo, o ministro das Relações Exteriores alemão, Frank-Walter Steinmeier, disse temer que a Rússia tenha aberto uma "caixa de pandora" para que as fronteiras da Europa sejam novamente redesenhadas.


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