Folha de S. Paulo


Entenda por que Ucrânia e Rússia brigam pelo controle da Crimeia

O território da Crimeia está no centro da atual disputa entre a Ucrânia e a Rússia que ameaça a segurança mundial.

Entenda a crise:

OS PROTESTOS

Os problemas começaram em novembro, quando multidões começaram a ir às ruas da capital ucraniana, Kiev, para pressionar o então presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, a fechar um acordo comercial com a União Europeia em detrimento de um com a Rússia.

Yanukovich, que é de etnia russa e só aprendeu a falar ucraniano na vida adulta, porém, acabou dando as costas à UE e fechando com Moscou, que lhe prometeu um pacote de ajuda financeira incluindo um empréstimo bilionário e desconto no preço do gás natural.

O movimento se fortaleceu diante da derrota e ocupou a Prefeitura de Kiev e a Praça da Independência. O governo reagiu com violência e prisões arbitrárias, além de uma lei que proibia o uso de capacetes, a reunião de grupos de mais de cinco pessoas e a ocupação de prédios públicos.

Os manifestantes reagiram com força dobrada.

Vasily Fedosenko/Reuters
Manifestantes antigoverno incendeiam barricadas na Praça da Independência, em Kiev
Manifestantes antigoverno incendeiam barricadas na Praça da Independência, em Kiev

TROCA

No fim de fevereiro, governo e oposição assinaram um acordo de paz que, no entanto, não durou 24 horas. Yanukovich deixou o país, e um governo interino pró-UE assumiu o poder.

O Ocidente reconheceu a troca, mas o governo russo viu nela um golpe de Estado. Com base nisso, alegou que havia ameaça aos cidadãos de etnia russa que vivem na Crimeia e foi, aos poucos, tomando o controle da área.

Maxim Shemetov/Reuters
O presidente deposto da Ucrânia Viktor Yanukovich
O presidente deposto da Ucrânia Viktor Yanukovich

CRIMEIA

Das cerca de 2 milhões de pessoas que moram naquela península, mais da metade se considera de origem russa e, inclusive, fala russo no dia a dia.

Simferopol é a capital da Crimeia, onde fica o Parlamento, e Sebastopol é a sede da poderosa Frota do Mar Negro, que pertence à Rússia.

Isso não surpreende, já que a Crimeia foi transferida à Ucrânia pela União Soviética só em 1954, e a Ucrânia em si se tornou independente só em 1991.

Na verdade, a Crimeia resume uma divisão política e cultural que acontece em toda a Ucrânia. O leste do país tende a ser pró-Rússia e o oeste, pró-UE. Isso se reflete, por exemplo, nos resultados das eleições. A maioria dos votos de Yanukovich saiu do leste.

Editoria de Arte/Folhapress
Editoria de Arte/Folhapress

GÁS

Cerca de 80% das exportações russas de gás para a Europa passam pela Ucrânia, e a Europa importa da Rússia cerca de um terço do gás que consome

Os gasodutos mais importantes são aqueles que levam à Eslováquia e, depois, à Alemanha, à Áustria e à Itália, e existe a preocupação de que uma guerra atrapalhe o abastecimento.

Zurab Kurtsikidze/Efe
Soldados ucranianos observam navio de guerra russo em Sebastopol
Soldados ucranianos observam navio de guerra russo em Sebastopol

HISTÓRIA

No século 18, a Crimeia foi absorvida pelo império russo, e a base da Frota do Mar Negro foi fundada.

Entre 1853 e 1856, mais de 500 mil pessoas morreram na Guerra da Crimeia entre a Rússia e o Império Otomano, o último apoiado pelo Reino Unido e França. O conflito resultou em uma virada no quadro diplomático da Europa, e serviu como precursor da Primeira Guerra.

Em 1921, a península, então povoada principalmente por tártaros adeptos do islamismo, se tornou parte da União Soviética. Os tártaros foram deportados em massa pelo líder soviético Joseph Stálin, no final da Segunda Guerra, por supostamente colaborarem com os nazistas.

Em 1954, a Crimeia foi transferida à Ucrânia, outra república soviética, por decisão de Nikita Khrushchev, sucessor de Stálin e ucraniano.


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