Folha de S. Paulo


EUA querem nova relação com Caracas

Um dia depois de os EUA retaliarem Caracas, expulsando três diplomatas venezuelanos, o secretário de Estado americano, John Kerry, disse ontem estar disposto a tentar normalizar as relações entre os dois países.

"Estamos preparados para mudanças nessas relações. As tensões entre os dois países já duraram demais", disse Kerry à emissora MSNBC.

Kerry, porém, destacou que os EUA não vão aceitar ser "responsabilizados por coisas que nunca fizeram".

Há dez dias, quando expulsou três diplomatas americanos do país, Maduro acusou o governo americano de tentar "desestabilizar a democracia venezuelana".

Anteontem, o chanceler venezuelano, Elías Jaua, havia anunciado a indicação do atual assessor internacional de Nicolás Maduro, Maximilien Sánchez Arveláiz, para assumir o posto de embaixador em Washington.

As duas capitais estão sem embaixadores desde 2010, quando o então presidente Hugo Chávez se recusou a aceitar o nome indicado por Washington. Em retaliação, os EUA suspenderam o visto do então embaixador venezuelano, Bernardo Herrera.

A escolha do governo venezuelano para o posto, contudo, já levanta dúvidas sobre a intenção de Maduro de ter uma real reaproximação com os EUA.

Arveláiz, que serviu como embaixador no Brasil entre 2010 e 2013, sempre foi um importante articulador político de Chávez na América do Sul e representante de sua retórica de combate à influência americana na região.

Em setembro de 2012, em uma das poucas entrevistas concedidas no Brasil, ele atribuiu ao governo de Barack Obama "dois golpes de Estado: um em Honduras [2009] e outro no Paraguai [2012]".

"Chávez entregou a Obama o livro do [Eduardo] Galeano –escritor uruguaio, autor do clássico 'Veias Abertas da América Latina', sobre os anos de exploração e dominação no continente. Mas parece que Obama não leu", disse Arveláiz ao blog do amigo José Dirceu.

No dia em que o presidente paraguaio Fernando Lugo foi destituído, em junho de 2012, Arveláiz esteve em Assunção com o então chanceler Maduro, acusado de incentivar as Forças Armadas paraguaias a se rebelarem contra a cassação de Lugo.

Ele também foi importante elo entre Chávez e a esquerda brasileira. Em 2013, foi criticado por participar, como embaixador, de um ato de apoio aos petistas condenados no caso do mensalão.

Em 2007, quando era ministro-conselheiro em Brasília, articulou a distribuição de um livro sobre Simón Bolívar em escolas públicas.

Descrito por Maduro como o "filho queridíssimo de Chávez", Arveláiz ostentava em seu escritório em Brasília uma foto jogando futebol de mesa com o comandante.

No ano passado, foi escolhido por Maduro para assessorá-lo em política externa "sob a nova ética socialista".

Caso os países resolvam restabelecer sua relação, o nome de Arveláiz ainda terá que ser aceito pelos EUA.


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