Folha de S. Paulo


Parlamento destitui Yanukovich e convoca eleições na Ucrânia

O Parlamento ucraniano destituiu neste sábado (22) o presidente do país, Viktor Yanukovich, após o governante ter deixado a capital, Kiev, e manifestantes terem tomado o palácio presidencial. Eleições antecipadas foram convocadas para o dia 25 de maio.

Em entrevista a uma emissora de TV, concedida pouco antes da decisão do Parlamento, Yanukovich negou que tivesse deixado o cargo e classificou a situação em curso como um golpe de Estado.

Ele disse ainda que seu carro foi alvo de disparos, mas não deu detalhes de onde o ataque teria ocorrido. Ele não aparentava sinais de ter sido ferido. "Não estou com medo. Sinto pena pelo meu país."

Acredita-se que a entrevista tenha sido concedida na cidade de Kharkiv, no nordeste do país, onde o apoio a Yanukovich é maior.

Além do escritório presidencial, ativistas declararam ter ocupado todos os edifícios da administração oficial. Enquanto o Parlamento votava a queda do presidente, manifestantes com capacetes e escudos cercavam o prédio.

O policiamento ostensivo também deixou as ruas de Kiev. Ao menos um parlamentar do partido do presidente foi agredido ao chegar ao local.

Opositores também exigiram dos controladores aéreos ucranianos informações a respeito da localização do presidente.

Os eventos desta manhã dão conta da rápida erosão do poder na Ucrânia, após uma semana violenta com ao menos 77 mortos.

As ruas em que franco-atiradores derrubaram manifestantes estavam tomadas por pessoas com bandeiras nacionais. Missas e funerais ocorriam em diversos pontos do centro.

A residência do presidente foi abandonada, e manifestantes se organizavam ao redor da construção. Segundo rumores, homens mascarados foram impedidos de entrar para evitar saques.

Documentos foram encontrados em um local próximo. A oposição diz que o governo tentava destruir esses papéis.

A reportagem da Folha foi autorizada a cruzar os portões do escritório do presidente Yanukovich, em Kiev. Ali, Ostap Kryvdyk, 34, diretor de uma milícia chamada Forças de Auto-Defesa, falava a um pequeno grupo de jornalistas internacionais.

"O presidente Yanukovich deixou Kiev para sempre. Ele matou muitas pessoas aqui. Grande parte da Ucrânia está governada pelo povo por meio de conselhos locais."

Segundo Kryvdyk, a polícia estava "mudando de lado". O Ministério do Interior divulgou, mais cedo, uma nota em honra aos mortos da última semana. O ministro fora deposto por voto do Parlamento, anteontem, substituído então por Arsen Avakov.

As Forças de Auto-Defesa são constituídas, segundo o diretor, "por pessoas que vieram voluntariamente para proteger o país". Milícias como essa tomaram o controle de diversos edifícios públicos. No palácio, diziam trabalhar em cooperação com as forças de segurança.

À Folha, um homem que se identificou como coronel Nicolai Koloyavsny, representante da segurança do Estado, confirmou que a administração do governo está protegida pelo "serviço especial".

INÍCIO DAS MANIFESTAÇÕES

As manifestações na Ucrânia foram iniciadas em novembro de 2013, quando o presidente reverteu a decisão de aproximar-se da União Europeia, preferindo sua aliada Rússia.

A repressão do governo, considerada excessiva, intensificou os protestos, que passaram a exigir sua renúncia.

A transformação política tem sido veloz nos últimos dias. Com votos seguidos no Parlamento, onde legisladores pró-governo têm renunciado aos cargos, a estrutura do poder na Ucrânia está se reconfigurando dia a dia.

Volodymyr Rybak, líder do Parlamento e aliado de Yanukovich, renunciou hoje cedo e foi substituído por Oleksander Turchynov, próximo da opositora Yulia Timoshenko. Ele foi nomeado premiê interino.

Timoshenko, por sua vez, foi libertada da prisão onde estava detida desde 2011 por acusação de abuso de poder.


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