Folha de S. Paulo


Negociação nuclear não vai a lugar nenhum, diz líder supremo do Irã

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, afirmou nesta segunda-feira que as negociações do país com as potências sobre o fim do programa nuclear "não vão a lugar nenhum".

O Irã se prepara para retomar nesta terça-feira, em Viena, os encontros com as grandes potências do grupo 5+1 (Grã-Bretanha, França, Estados Unidos, Rússia e China, mais a Alemanha) visando alcançar um acordo definitivo sobre seu controverso programa nuclear.

Em novembro, foi alcançado um acordo provisório, com seis meses de duração, sob o qual o Irã congelou todas as atividades de enriquecimento de urânio acima de 5% e reduziu as reservas de urânio enriquecido a 20%, um nível que aponta a um domínio técnico da depuração desse material. Para armar uma bomba nuclear é preciso enriquecer o urânio a 90%.

Em troca, as potências aliviaram as sanções econômicas existentes e se comprometeram a não criar novas.

Após uma década de fracassos e crescentes tensões, o presidente americano, Barack Obama, estimou em 50% as chances de um acordo, enquanto o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, previu discussões difíceis.

"Alguns dos funcionários do governo anterior, bem como deste governo, acreditam que o problema será resolvido se eles negociarem a questão nuclear", declarou Khamenei em declarações publicadas em seu site, Khamenei.ir.

"Repito mais uma vez que não estou otimista sobre as negociações e que elas não levarão a lugar nenhum, mas eu não sou contra elas", ressaltou.

As dúvidas do líder supremo contrastaram com o moderado otimismo mostrado pela chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, ao chegar a Viena para iniciar na terça os contatos esperados para se encerrarem na quinta-feira.

Catherine declarou à imprensa que é "cautelosamente otimista" sobre o desenvolvimento das negociações, e que espera obter "resultados palpáveis" delas.

NEGOCIAÇÃO

O encontro de três dias marcado em Viena entre o Irã e o chamado grupo 5+1 é o primeiro entre uma série de reuniões complicadas aguardadas para os próximos meses.

Sob o acordo "abrangente" que agora é buscado, as potências querem que o Irã reduza suas atividades permanentemente.

Isso pode incluir o fechamento da usina de Fordo, a redução do número de centrífugas de enriquecimento de urânio, a diminuição de seu estoque de material físsil e a alteração de um novo reator que está sendo construído em Arak, segundo diplomatas.

Em troca, o Irã veria a retirada de todas as sanções do Conselho de Segurança da ONU, dos Estados Unidos e da UE que pesavam sobre o país.

Khamenei declarou que o Irã irá cumprir sua promessa de prosseguir com as negociações, acrescentando que as autoridades iranianas devem "continuar com seus esforços".

"O trabalho que foi iniciado pelo Ministério das Relações Exteriores vai continuar e o Irã não irá violar o seu compromisso, mas vou repetir novamente, ele não vai levar a lugar nenhum", disse Khamenei.

"A nação iraniana enfatizou que nunca vai sucumbir à intimidação e à chantagem da América", afirmou Khamenei, referindo-se a slogans contrários aos Estados Unidos bradados por multidões durante as celebrações em todo o país na semana passada pelo 35º aniversário da Revolução Islâmica iraniana.

O acordo nuclear interino foi conseguido graças ao avanço que trouxe a eleição de Hasan Rowhani como novo presidente iraniano, considerado moderado com relação ao antecessor, o conservador Mahmoud Ahmadinejad.

As potências ocidentais e Israel suspeitam que o Irã busca se dotar de bombas nucleares amparado em seu programa civil, acusações negadas por Teerã.


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