Folha de S. Paulo


Acordo é cada vez mais difícil, diz historiador

Em meio às tentativas de israelenses e palestinos de negociar a paz, apoiados pelos EUA, o historiador israelense Benny Morris resume seu pessimismo: "Os palestinos não estão prontos."

Para um dos acadêmicos mais respeitados de Israel, há uma diferença essencial nas aspirações dos dois lados.

Enquanto a liderança sionista foi impactada pelos eventos históricos e passou a aceitar a ideia de um Estado judaico só em parte do território do antigo protetorado britânico, os nacionalistas palestinos, segundo Morris, insistem até hoje na ideia de ter uma "Grande Palestina".

O historiador vem ao Brasil nesta semana, a convite da Federação Israelita do Estado de São Paulo e do Hospital Albert Einstein, para o lançamento da tradução de seu livro "Um Estado, Dois Estados" (editora Sefer).

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Folha - O sr. viaja ao Brasil para divulgar o livro "Um Estado, Dois Estados". Qual é a tese da obra?
Benny Morris - O livro é um ensaio político sobre dois movimentos nacionais, o palestino e o sionista, e suas aspirações quanto a um Estado. Escrevo sobre como os eventos históricos os impactaram.

Quais eventos?
O movimento sionista, no fim do século 19, queria toda a Palestina para o Estado judaico. Na segunda metade dos anos 1930, alguns acontecimentos históricos influenciaram sua liderança para que aceitasse apenas parte do território. Entre esses eventos está uma revolta palestina, que convenceu sionistas de que havia um sério movimento social palestino e, assim, os judeus não poderiam ter todo o Estado.

Qual foi o desenvolvimento do nacionalismo palestino?
No lado palestino, que amadureceu mais tarde como movimento político, o objetivo inicial também era estabelecer um Estado em toda a Palestina. A diferença é que eles não mudaram, apesar dos desastres de 1948 [o deslocamento populacional pós-guerra de independência de Israel] e de 1967 [a ocupação de Gaza e da Cisjordânia]. O objetivo deles ainda é a totalidade do território.

O sr. é considerado um dos "novos historiadores" israelenses. Por que sua narrativa desvia da história tradicional?
Quando comecei a trabalhar, nos anos 1980, fiz parte da primeira geração de historiadores israelenses a trabalhar com documentos, não com memórias. Nossas teorias foram aceitas e são ensinadas nas universidades. Acertamos especialmente na questão dos refugiados.

Como?
A narrativa sionista tradicional é a de que os palestinos deixaram suas casas voluntariamente. A palestina, por outro lado, fala de um projeto de expulsões em massa.
Os documentos mostram uma imagem no meio do caminho. Na maior parte das regiões, os palestinos deixaram seus lares por medo de que houvesse ataques de judeus.

Houve limpeza étnica?
Houve expulsões, com uma limpeza étnica parcial. Na [extinta] Iugoslávia houve, porém, uma política deliberada de massacres que não ocorreu aqui. Não foi sistemático. Tanto que o Estado israelense foi criado englobando 160 mil árabes.

Tem sido dito que essa é a última chance para que israelenses e palestinos negociem a paz. O sr. concorda?
É verdade que, quanto mais povoarmos a Cisjordânia, mais difícil vai ser termos paz. Mas não sei se esta é realmente a última chance. Talvez a última chance tenha passado nos anos 1980. Sou pessimista, e acho que os palestinos não estão prontos para dois Estados.

O sr. acha que a comunidade internacional está posicionada contra Israel?
A moralidade da política mudou. Não é mais moralmente aceito ocupar outro povo, e temos ocupado outro povo desde 1967.

Mas o Ocidente oprimiu muito mais do que Israel, no passado.

Eles sentem culpa por seu passado imperialista e acabam projetando em Israel sua própria história.


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