Folha de S. Paulo


Presidente do Irã se desculpa por falhas em programa social

O presidente do Irã, Hasan Rowhani, pediu desculpas pelos transtornos numa operação para distribuir alimentos à população carente que resultou em longas filas no inverno gelado e ruptura de estoque.

"Como presidente, expresso meu pesar se pessoas enfrentaram problemas na hora de receber a cesta de alimentos", disse Rowhani à TV estatal na madrugada desta quinta-feira.

Desde domingo, o governo distribui um pacote que inclui dez quilos de arroz, dois frangos, queijo e óleo a toda família com renda mensal inferior ao salário mínimo (equivalente a US$ 170).

O objetivo da operação, que se estende por mais oito dias e será repetida nas próximas semanas, é aliviar os efeitos da inflação de 38% para os mais pobres.

Mas, em alguns pontos de distribuição, pessoas enfrentaram horas de fila sob nevasca e temperaturas negativas, causando irritação.

Em outros pontos, entregas foram suspensas por desabastecimento e falhas na rede informática que cadastra famílias.

A Folha ouvi queixas de iranianos contra o tamanho da cesta ser o mesmo independentemente do tamanho da família receptora.

Os transtornos geraram críticas dos ultraconservadores contrários à Rowhani, incluindo políticos e jornais linha-dura.

Apesar dos ataques, Rowhani garantiu, na terça-feira, o apoio do Parlamento para continuar com a distribuição de alimentos no âmbito de um pacote de medidas mais amplas que tentam aplacar a crise econômica.

A crise é atribuida às políticas erráticas do governo anterior de Mahmoud Ahmadinejad e às sanções ao programa nuclear.

Na frente doméstica, o plano de Rowhani consiste em reduzir gradualmente os subsídios em larga escala, que causam inflação e esvaziam cofres públicos.

Subsídios mantêm artificialmente baixo preços de alguns alimentos, combustível e transporte público e incluem, ainda, remessas mensais equivalentes a US$ 18 na conta de cada iraniano.

Analistas preveem que o corte dos subsídios, mesmo parcialmente compensado por distribuição de alimentos, poderá gerar insatisfação popular.

Na frente externa, Rowhani já obteve um alívio parcial das sanções após firmar acordo preliminar com as potências que obriga Teerã a reduzir seu enriquecimento de urânio, material teoricamente capaz de gerar a bomba atômica.

Mas as sanções mais severas só serão levantadas caso as negociações resultem em entendimento definitivo.

REATOR DE PLUTÔNIO

Um dos temas mais sensíveis nas conversas é o reator de água pesada de Arak (centro-oeste), que o Irã constrói com o objetivo declarado de gerar isótopos médicos, mas que pode, em tese, ser usado para gerar outro tipo de bomba nuclear, de plutônio.

Em resposta à pressão ocidental pela suspensão da obra, o chefe da agência nuclear do Irã, Ali Akbar Salehi, disse nesta quinta-feira que seu governo está disposto a "rever a configuração" do reator para que produza "menos plutônio."

Não está claro se a oferta satisfará as potências, que se opõem à produção de plutônio pelo Irã.


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