Folha de S. Paulo


Crise econômica leva Irã a distribuir comida e afeta presidente moderado

O governo do Irã está sob intensas críticas por causa de uma operação de distribuição de alimentos à população carente, marcada por falhas que incluem longas filas sob temperaturas negativas e rupturas de estoque.

O tumulto, surgido às vésperas do 35º aniversário da Revolução Islâmica, é tido como revés para o presidente Hasan Rowhani, eleito em junho com a promessa de reverter a crise econômica.
A distribuição foi iniciada no domingo, em meio a esforços para aliviar o impacto da inflação de 38% antes do Ano Novo persa, em março.

Editoria de Arte/Folhapress

Pelos próximos dez dias, qualquer família com renda mensal inferior a US$ 170 (R$ 409,70) poderá receber uma cesta que inclui arroz e frango, entre outros produtos. Uma segunda entrega ocorrerá no próximo mês, repetindo governos anteriores.

Mas os pontos de distribuição vêm sendo tomados por multidões que, em alguns locais, esperam várias horas num frio de -7ºC, em meio à maior nevasca nos últimos 50 anos no Irã.

O mau tempo perturbou a operação no norte do país, onde vilarejos ficaram sem água nem energia. Bombeiros e militares usaram helicópteros para entregar os alimentos.

Em Teerã, a neve levou à interrupção da operação em alguns supermercados, segundo a Folha constatou ontem.

"O caminhão trazendo frango e arroz não conseguiu chegar por causa do mau tempo. Voltem amanhã", dizia uma funcionária em um bairro no sul da capital.

Em outros locais, a distribuição foi suspensa devido à queda da rede de informática que registra as entregas.

Em dois dos cinco pontos visitados pela reportagem, não houve maiores problemas. Mas houve críticas à qualidade dos produtos e à padronização da cesta.

"Tenho família numerosa, é injusto eu receber a mesma quantia que quem mora com pouca gente", disse Alireza Saee, 38.

Adversários de Rowhani tentam capitalizar em cima da insatisfação. "Está claro que o governo não preparou direito o método de distribuição", disse o presidente do Parlamento, Ali Larijani.

Jornais ultraconservadores estamparam fotos das filas e acusaram Rowhani de ferir a "dignidade das pessoas".

A distribuição de alimentos tenta atenuar a inflação, que disparou sob o ex-presidente Mahmoud Ahmadinejad.

Seu governo instaurou depósito mensal equivalente a US$ 18 para cada iraniano, levando à alta de preços. Analistas preveem que esforços de Rowhani para limitar essas remessas causarão insatisfação.


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