Folha de S. Paulo


Testamento de Mandela divide herança entre família, fundação e CNA

O testamento do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela foi aberto nesta segunda-feira e foi avaliado provisoriamente em 46 milhões de rands (R$ 10 milhões), informou à imprensa um de seus testamenteiros, o juiz Dikgang Moseneke.

O valor da herança de Mandela é estimado, já que exclui os benefícios derivados dos direitos de imagem, explicou Moseneke, um dos três responsáveis pelo testamento de 40 páginas.

Os outros dois encarregados de administrar o testamento são o ex-advogado e amigo íntimo de Mandela, George Bizos, e o juiz Themba Sangoni. Eles compareceram junto com Moseneke na entrevista coletiva, realizada na sede da Fundação Mandela.

Moneseke disse que foi realizado um inventário provisório que "reflete um valor provisório de 46 milhões de rands" durante a leitura pública do testamento.

Mandela legou seu patrimônio à sua esposa Graça Michel, a membros de sua família, a vários colaboradores, às escolas onde estudou e ao Congresso Nacional Africano (CNA), seu partido.

Dois meses após a morte, aos 95 anos, do líder sul-africano, os advogados disseram que era provável que sua esposa Graça renunciasse à metade da herança, optando por receber quatro propriedades em Moçambique e outros valores.

Teoricamente, Graça Machel teria direito à metade da herança, mas deseja ficar apenas com que já pertence a ela, entre joias, mobiliário e contas bancárias próprias.

Suas três propriedades foram legadas à fundação familiar "Nelson Rohlilala Mandela Family Trust", entre elas a casa na qual está enterrado em Qunu, no sul da África do Sul, e a de Johannesburgo, onde recebeu cuidados médicos no bairro abastado de Houghton.

Esta fundação deverá dividir entre 10 e 30% de seus ingressos com o ANC, que deverá utilizar o montante "para a promoção dos princípos e políticas de reconciliação entre sul-africanos".

Sobre a casa de Houghton, "meu desejo é que sirva também de local de reunião da família Mandela para manter sua unidade muito tempo depois de minha morte", escreveu em seus últimos desejos.

O testamento prevê diferentes legados às instituições onde estudou em sua juventude, para que possam oferecer diplomas a seus alunos, sobretudo as Universidades de Fort Hare e de Witwatersrand em Johannesburgo.

Também incluiu em seu testamento os filhos de sua viúva Graça Machel, com quem se casou aos 80 anos, assim como a sua ex-secretária Zelda La Grange, e a nove colaboradores.

A família Mandela mostrou publicamente suas divisões nos últimos anos, especialmente entre seu neto Mandla, primeiro herdeiro homem, segundo o costume xhosa, e sua filha mais velha, Makaziwe.

FAMÍLIA

Moseneke revelou que Mandela estava casado com Graça Machel, em comunhão de bens adquiridos pelo casamento.

Os familiares mais próximos a Nelson Mandela também foram informados do conteúdo do testamento sede da fundação, minutos antes de o documento se tornar público.

Segundo Mosoneke, nenhum membro do clã fez objeções ao testamento, que foi publicado para dar ao processo "total transparência", segundo o próprio juiz.

Nelson Mandela, falecido no dia 5 de dezembro e enterrado dez dias depois em sua aldeia natal, tem mais de 30 filhos, netos e bisnetos de seus dois primeiros casamentos.

"A leitura de um testamento sempre é para as famílias uma ocasião repleta de emoções porque faz ressurgir muitas coisas, mas foi bom. O testamento foi lido, página por página. Isso levou mais tempo que o previsto. Foram pedidos alguns esclarecimentos", afirmou o juiz Moseneka.

"Praticamente toda a família Mandela e seus descendentes estiveram presentes, o que nos alegrou", acrescentou.

No testamento, redigido em 2004 quando tinha 86 anos e posteriormente emendado, Mandela deixou cartas pessoais para a maioria de seus herdeiros, segundo o juiz.


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