Folha de S. Paulo


Irã relaxa prisão de líder oposicionista

O reformista Mehdi Karoubi, um dos líderes do movimento que estremeceu o Irã em protestos contra supostas fraudes na eleição presidencial de 2009, foi autorizado a voltar para casa ontem, após permanecer três anos preso.

A decisão sinaliza momento favorável para setores mais liberais próximos do presidente Hasan Rowhani em sua queda de braço contra ultraconservadores.

Karoubi, 76, havia sido detido ao mesmo tempo que o também reformista Mir Hossein Mousavi, 71, que continua em prisão domiciliar. Ambos haviam disputado o controverso pleito que reelegeu Mahmoud Ahmadinejad.

Karoubi já foi transferido do apartamento onde ficou vigiado pelo regime até a sua casa, no norte de Teerã, segundo disse seu filho Hossein no Facebook.

Mas Hossein queixou-se de que o pai continua sob intenso monitoramento policial. "Ele agora está morando no segundo andar [da casa] e a equipe de segurança está [instalada] no primeiro andar. A situação não mudou, só o lugar". Segundo o filho, Karoubi está proibido de usar telefone, internet ou assistir canais de TV estrangeiros.

Apesar das restrições, trata-se do primeiro indício de que os dois líderes reformistas podem estar próximos de ser libertados, conforme esperado por simpatizantes, artistas e parte da mídia local.

A ida para casa de Karoubi é amplamente tida como obra do governo Rowhani, eleito em junho para substituir Ahmadinejad.

Embora não seja reformista, Rowhani obteve apoio da base e do comando reformista ao prometer concessões nucleares ao Ocidente e maiores liberdades políticas e individuais. Mesmo sem citá-los nominalmente, ele deixou no ar a ideia de que Mousavi e Karoubi deveriam ser libertados.

Mas um influente agrupamento de clérigos, deputados e funcionários do aparato securitário se opõe a qualquer iniciativa para aliviar o cerco aos líderes reformistas, que lideraram a contestação conhecida como Movimento Verde.

Alguns setores pediram pena de morte contra Mousavi e Karoubi sob acusação de que usaram o pretexto da fraude eleitoral para tentar derrubar a república islâmica a mando do Ocidente.

Reformistas negam elos com o exterior e argumentam que o Movimento Verde deu voz a milhões de iranianos revoltados contra suposta manipulação das urnas em favor dos conservadores.

Apesar de o pico dos protestos ter ocorrido em 2009, Karoubi e Mousavi só foram detidos dois anos depois, quando incentivaram iranianos a voltar às ruas em apoio às populações tunisiana e egípcia que, à época, iniciavam a onda de revoltas árabes.


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