Folha de S. Paulo


Negociação síria termina sem acordo e deve ser retomada em fevereiro

A primeira rodada de negociações da conferência sobre Síria terminou nesta sexta-feira sem nenhum acordo cumprido e com fortes divergências entre as delegações da oposição e do regime do ditador Bashar al-Assad. O enviado especial da ONU, Lakhdar Brahimi, sugeriu a retomada do diálogo em 10 de fevereiro.

Nos oito dias de negociações, as duas partes concordaram em enviar ajuda humanitária e retirar mulheres e crianças da cidade de Homs, na região central do país, além de mostrarem o compromisso com o documento da primeira conferência de Genebra, em 2012, que prevê o fim da violência e a transição política.

As medidas, no entanto, enfrentam o impasse entre governo e rebeldes. O comboio de ajuda humanitária da ONU, que chegou ao território sírio na segunda (28), continua esperando um acordo entre o Exército sírio e as milícias armadas para permitir o acesso seguro aos suprimentos, que ajudariam 2.500 pessoas.

No carregamento, estão alimentos, produtos de higiene, medicamentos e acessórios para enfrentar as baixas temperaturas do inverno. O regime acusa os rebeldes de quererem usar o corredor humanitário para a saída de combatentes armados, enquanto os opositores dizem que o regime quer impedir o acesso à ajuda.

Pelo menos 1.870 pessoas morreram em toda a Síria durante as negociações de Genebra 2, que começaram na Suíça em 22 de janeiro, informou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos nesta sexta-feira.

O grupo de monitoramento com sede na Grã-Bretanha disse que mais de 470 mortos eram civis, incluindo 40 pessoas que morreram devido à falta de acesso adequado a alimentos e medicamentos em áreas sitiadas pelas forças do governo.

TRANSIÇÃO

Outro ponto de discordância é a transição política. Ao terminar a conferência, o ministro sírio da Informação, Omram al-Zoubi, disse que Damasco não fará concessões à oposição e criticou os adversários por sua aliança com o terrorismo, como chama os grupos armados, os Estados Unidos e os países do golfo Pérsico.

Os opositores, no entanto, dizem que vão incorporar novos grupos às negociações e considera que o regime será obrigado a negociar. Para o presidente da Coalizão Nacional Síria, Ahmad Jarba, Damasco não mostrou compromisso durante as negociações e que a conferência é "o princípio do fim do governo".

Diante do impasse, as delegações iniciaram o debate do documento de Genebra pelo fim da violência. Lakhdar Brahimi reconheceu que o início do diálogo foi modesto e que a negociação será lenta, mas destacou um avanço.

"O grande passo dado é que as delegações se acostumem a se sentar na mesma sala, apresentar suas posições e ouvir uma a outra. Inclusive houve momentos em que aceitaram a visão da outra parte. Vocês ouvirão versões completamente diferentes do que aconteceu no encontro".

ARMAS QUÍMICAS

A conferência sobre Síria acontece em meio à retirada das armas químicas das mãos do regime, determinada após um ataque químico com gás sarin que deixou centenas de mortos em agosto na periferia de Damasco. Nesta sexta, a Rússia afirmou confiar que será cumprido o prazo de desarmamento, previsto para o fim de junho.

O chefe do Departamento de Segurança e Desarmamento da Chancelaria russa, Mikhail Ulyanov, acredita que a estimativa é "completamente realista". Ele acusou grupos rebeldes de impedir o traslado do arsenal ao porto de Latakia, de onde será levado para a destruição em um navio americano no mar Mediterrâneo.

Um comboio que transportava armas químicas, com destino a Latakia, foi atacado no dia 27 de janeiro por um grupo de guerrilheiros, revelou nesta sexta-feira Ulianov.

Ulianov disse que embora o ataque tenha sido repelido, a equipe da ONU e da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) é ameaçado continuamente pela oposição armada ao regime sírio.

Já o secretário de Estado americano, John Kerry, exigiu ao regime o cumprimento do prazo da retirada das armas e disse que "tomará medidas" caso isso não aconteça. "Não foi retirada nenhuma opção da mesa quando se aprovou a destruição do arsenal sírio", disse, em referência à intervenção militar.

Os Estados Unidos acusaram a Síria na quinta-feira (30) de retardar a entrega de armas químicas e disseram que só dois carregamentos saíram da Síria, o que não chega a 4% do arsenal declarado pelo governo

"A necessidade do processo de restabelecer o ritmo é óbvia", declarou o diretor-geral da Opaq, Ahmet Uzumcu.


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