Folha de S. Paulo


Solteiras alugam companheiros para o Ano-Novo chinês

Enquanto milhões de chineses se reúnem nesta sexta-feira com as famílias para comemorar o seu Ano-Novo, na data mais importante do calendário nacional, os solteiros viverão uma prova de fogo.

É o momento em que eles são encurralados por parentes, vizinhos e enxeridos de plantão com cobranças sobre ainda não terem casado, listas de potenciais candidatos e intermináveis sermões.

Antes disso, muitos ainda têm que enfrentar o caos dos transportes, junto com outros milhões de migrantes a caminho de casa.

Como ocorre a cada ano, será o maior deslocamento humano do planeta: desta vez, a previsão é de 3,6 bilhões de viagens durante os 40 dias da temporada.

A pressão sobre as solteiras é tamanha que uma jovem da província de Hubei, no leste do país, foi internada nesta semana com esgotamento nervoso.

À imprensa local Wang Yan, funcionária de uma firma de investimentos prestes a completar 30 anos, disse que desmoronou ao pensar que viveria uma repetição do último Ano-Novo, quando foi "bombardeada" por dezenas de parentes ao aparecer sem namorado.

Ser solteiro após os 30 é um tabu na China, principalmente para as mulheres. Pela tradição, a partir dos 27 as mulheres já são consideradas encalhadas e ganham o rótulo pejorativo de "sheng nu" (sobra). A angústia deu origem a um mercado de namorados de aluguel, que oferecem companhia às solteiras nas festas familiares para calar os parentes e diminuir o estresse do feriadão.

No popular site de vendas on-line Alibaba, há mais de mil anúncios do serviço, com opções e preços variados. Procurado pela Folha, um deles disse que tem "centenas de clientes" durante o ano, mas que o Ano-Novo é a alta estação.

"Você está encalhada, não é tão jovem e não aguenta mais ser importunada por parentes? Quer um namorado para encarar a família e os amigos? Sou um rapaz bem-humorado e positivo, que pode lhe proporcionar um agradável feriado", diz o seu anúncio.

Por email, o rapaz diz que tem 28 anos e trabalha numa empresa de comércio eletrônico. Prefere não revelar o nome e pede para ser identificado pelo apelido que usa nos anúncios: 51haoquan.

O preço é salgado: 2000 yuans por dia (R$ 800) para ele bancar o namorado, sem contar as despesas com transporte.

É o equivalente à renda mensal média da população chinesa, portanto um preço inacessível para a maioria. O serviço tem como alvo mulheres da classe média urbana, com boas carreiras, mas sem um namorado.

O anúncio de 51haoquan enuncia algumas regras:

"Posso abraçar e ficar de mãos dadas de graça, mas só uma vez. Não durmo na mesma cama! Se tiver que dormir num sofá, cobro mais 600 yuans (R$ 240)".

Ele conta que a maioria de suas clientes é de mulheres "acima da idade de casar" e que o negócio vai bem.

"Não é só nos feriados. Elas querem um 'namorado' para fazer compras, ir ao cinema e se exibir para os amigos. Há também as amantes de dirigentes do partido. Essas só querem uma companhia", explica ele.


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