Folha de S. Paulo


Oposição e regime sírios aceitam discutir fim da violência e transição

As delegações do regime sírio e dos rebeldes que desejam a saída do ditador Bashar al-Assad concordaram nesta quarta-feira em discutir o documento da primeira conferência de Genebra, que prevê a negociação do fim da violência e da transição política no país.

Embora a medida tenha sido comemorada, as delegações enfrentam um novo impasse. Enquanto o regime quer discutir o término dos confrontos na Síria, a oposição quer ir direto à transição política, posições defendidas desde o início da conferência da ONU pelos dois grupos.

Lakhdar Brahimi, o mediador da ONU para a Síria, afirmou nesta quarta-feira em Genebra que não espera um resultado substancial até o fim das discussões entre oposição e governo sírios, na sexta-feira.

"Para falar francamente, eu não espero conseguir algo de substancial. Espero que a segunda sessão seja mais estruturada e mais produtiva do que a primeira", declarou Brahimi nesta quarta à imprensa. A segunda rodada de negociações deve começar uma semana depois do término da primeira, também em Genebra.

A conselheira presidencial síria, Buzaina Shabaan, disse que o regime está disposto a discutir todos os pontos, mas que o primeiro é o fim da violência que, segundo ela, "é a causa do terrorismo". Ela acusou a oposição de distorcer o documento de Genebra ao focar apenas na transição e criticou a Coalizão Nacional Síria.

"Eles representam uma pequena fração dos opositores. Muitos deles não pisam na Síria há anos", afirmou a representante de Assad, pedindo ainda a presença de mais grupos rebeldes nas negociações.

Pouco antes, o integrante da coalizão síria Louay Safi comemorou a disposição do regime em negociar, mas deu ênfase à transição política, o que não foi feito por Damasco. Os rebeldes ainda querem a queda do ditador Bashar al-Assad, ponto que para o governo está fora de cogitação.

Com isso, nenhuma medida concreta ainda foi tomada no evento, que completa uma semana nesta quarta. Apesar do passo positivo, as expectativas de um acordo continuam baixas. Mesmo assim, nenhum dos lados quer ser o primeiro a abandonar a conferência.

AJUDA HUMANITÁRIA

As diferenças políticas entre os grupos também dificultam a entrega de ajuda humanitária em Homs, na região central da Síria, que havia sido determinada no domingo (26). Os caminhões de suprimentos estão em um depósito à espera que o governo e os rebeldes se entendam sobre a situação dos moradores da cidade.

A situação também é crítica no campo de refugiados palestinos de Yarmouk, perto de Damasco, onde 85 pessoas morreram desde junho devido à falta de remédios e alimentos. O local serve de abrigo para grupos rebeldes e é cercado pelas tropas de Assad.

Na terça-feira (28), o Reino Unido anunciou que acolherá centenas de refugiados sírios, em especial de grupos mais vulneráveis, como vítimas de tortura e violência sexual. Segundo a imprensa britânica, o governo aceitará a entrada de 500 sírios.

A medida não faz parte do programa do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur), cujo objetivo é que os países ocidentais recebam cerca de 30 mil sírios. Até agora, a Alemanha se comprometeu a acolher cerca de 10 mil refugiados sírios, enquanto a França receberá cerca de 500.

Segundo a ONU, cerca de 2,5 milhões de sírios fugiram do país desde o início do conflito que deixou mais de 130 mil mortos, em março de 2011.


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