Folha de S. Paulo


Negociação síria é suspensa após nova divergência sobre transição

As reuniões desta segunda-feira da conferência sobre a paz na Síria foram suspensas após nova discordância entre as delegações do regime sírio e dos rebeldes. Pouco antes, Damasco divulgou uma declaração em que não cita a possibilidade de um governo de transição no país.

Também está pendente a autorização da entrada de ajuda humanitária na cidade de Homs, onde também deve começar a retirada de mulheres e crianças anunciada no fim de semana pelo enviado especial da ONU, Lakhdar Brahimi.

As negociações foram retomadas às 11h locais (8h em Brasília). Nesta manhã, a imprensa oficial síria reiterou o lema do regime. "A delegação governamental em Genebra 2 não partiu para a conferência para entregar o poder para aqueles que participam de um complô contra o povo".

O texto irritou os opositores, que acusaram o governo de se esquivar da discussão sobre o futuro político sírio. "Hoje esperávamos começar a falar sobre uma nova Síria, sobre a transição da inanição para a liberdade, da tortura para os direitos humanos e o rigor da lei", disse o porta-voz da Coalizão Nacional Síria, Monzer Akbik.

O plano de transição política é interpretado de formas diferentes por Damasco e pelos rebeldes, assim como pelas potências participantes. A oposição defende a queda de Assad para dar fim à crise política, ideia também respaldada por Estados Unidos, Reino Unido e França.

Do outro lado, o regime considera que o texto de transição prevê a entrada de membros da oposição no atual regime e a realização de novas eleições para a escolha de um novo líder, descartando a queda de Assad. A visão é compartilhada por Rússia e China que, devido a isso, bloquearam sanções da ONU a Damasco.

AJUDA HUMANITÁRIA

Enquanto isso, representantes das Nações Unidas se reúnem com funcionários do regime sírio para tentar liberar 12 caminhões levando ajuda humanitária para Homs. A oposição acusa o regime de querer dar os suprimentos apenas para aqueles que decidirem ficar na cidade, o que Damasco nega.

O vice-chanceler sírio, Faisal al-Miqdad, disse em entrevista coletiva no domingo que o governo permitirá a saída de mulheres e crianças do centro da cidade se os rebeldes garantirem uma passagem segura. O mediador da ONU disse que compreendia que eles estariam livres para deixar Homs imediatamente.

Os rebeldes também afirmam que não houve progresso na libertação de presos políticos. O vice-chanceler sírio afirmou que a lista de prisioneiros enviada pela oposição era exagerada, enquanto a Coalizão Nacional Síria disse não ter controle em relação aos sequestrados pro grupos radicais.

Além do corredor humanitário, os negociadores discorreram no domingo (26) sobre os desaparecidos. As discordâncias fazem com que o evento que deveria discutir o fim da guerra civil tenha poucos avanços. Segundo a ONU, mais de 100 mil pessoas morreram em quase três anos de conflito.


Endereço da página: