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Líder do Irã vai a Davos 'vender' seu país

O presidente do Irã, Hasan Rowhani, se apresenta nesta quinta-feira à elite econômica mundial reunida em Davos (Suíça) com uma mensagem clara: Teerã está sob nova direção e quer retomar negócios com o Ocidente, principalmente na área petroleira.

A última participação iraniana em nível presidencial no Fórum Econômico Mundial foi em 2004, com o reformista Mohammad Khatami.

Desde então, o Irã afundou em sanções e se perdeu na gestão controversa de Mahmoud Ahmadinejad, deixando para Rowhani, eleito em junho, o desafio de salvar a economia do abismo.

Rowhani corre na esteira de um recém-implementado acordo nuclear preliminar com as potências, que inclui alívio parcial das sanções, para atrair investimentos.

Epicentro da economia iraniana e responsável por dois terços da arrecadação de divisas estrangeiras, o setor petroleiro é objeto de quase todos esforços.

Exportações despencaram pela metade desde 2012, quando um embargo europeu se somou ao bloqueio americano, que está em vigor desde os anos 1980.

A renda com venda de petróleo ao exterior, calculada em US$ 95 bilhões em 2011, caiu no ano seguinte para US$ 69 bilhões.

Editoria de Arte/Folhapress

Além do entrave às exportações, hoje restritas a cinco países asiáticos, o setor também sofre com a debandada das gigantes europeias por causa das sanções ao programa nuclear.

O vácuo foi parcialmente preenchido por empresas chinesas e coreanas, mas Teerã nunca escondeu que preferia tecnologia e investimentos ocidentais para revitalizar sua sucateada infraestrutura e explorar novos campos.

A agenda de Rowhani em Davos inclui um discurso, nesta quinta, diante dos dirigentes de petroleiras como Total, Shell e Eni, para convencê-las a retornar ao Irã.

Americanas poderão participar, embora proibidas por lei de negociar com o Irã.

"Temos quantidades colossais de investimentos e atividades técnicas a recuperar para produzir mais, e as gigantes petroleiras podem atuar nesse sentido", disse o ministro iraniano do Petróleo, Bijan Zanganeh.

Mas, para atrair investimento europeu no petróleo, Teerã não depende apenas de que negociações nucleares avancem até um hipotético alívio das sanções ao setor.

Petroleiras já deixaram claro que só retornarão caso obtenham contratos com mais garantias do que os hoje usados por Teerã.

"O governo entendeu a urgência de fazer mudanças na lei para trazer de volta o investimento petroleiro. Talvez seja preciso mudar a própria Constituição", afirmou à Folha uma fonte ligada à Chancelaria iraniana.

A aposta iraniana é revigorar o setor para atenuar o rombo nos cofres públicos deixado por Ahmadinejad.

"O líder supremo [aiatolá Ali Khamenei] sabe que a situação é calamitosa. Economia pode gerar revolta, e revolta pode ameaçar a segurança nacional", disse a fonte governista.


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