Folha de S. Paulo


Em 20 anos, quase não haverá países pobres, diz Bill Gates

Até 2035, não sobrará quase nenhum país pobre no mundo, diz Bill Gates, 56, fundador da Microsoft e um dos maiores filantropos do mundo, em sua carta anual divulgada nesta terça-feira.

Na previsão audaciosa de Gates, em pouco mais de 20 anos, quase todas as nações serão o que chamamos hoje de renda média inferior (US$ 1.036 a US$ 4.085, segundo o Banco Mundial) ou mais ricas, e haverá pouquíssimos países de baixa renda (renda per capita de US$ 1035 ou menos).

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Gates, cuja Bill & Melinda Gates tem patrimônio de US$ 40,2 bilhões e já fez doações de US$ 28,3 bilhões, não acredita que suas expectativas sejam exageradamente otimistas. Ao contrário.

Na carta, faz uma crítica aos que insistem em que "países pobres estão condenados a permanecer pobres". Para ele, esse é um de três mitos que atrasam o desenvolvimento. O segundo mito é que ajuda aos pobres é um grande desperdício e o terceiro, que salvar vidas pode levar ao excesso de população.

"Por quase qualquer medida, o mundo está melhor do que jamais foi. As pessoas estão vivendo mais, e vivendo vidas mais saudáveis; a pobreza extrema foi reduzida pela metade nos últimos 25 anos", diz Gates em sua carta.

Isso, no entanto, não é percebido nem celebrado pela maior parte das pessoas, que não vê os avanços, diz ele. "As pessoas são prisioneiras de vários mitos, ideias equivocadas que desafiam os fatos; os mais prejudiciais são que os pobres vão continuar pobres, que esforços para ajudá-los são sempre um desperdício e que salvar vidas só vai piorar as coisas", afirma Gates. "As boas notícias acontecem em câmera lenta; os países estão ficando mais ricos, mas é difícil captar isso em vídeo; a saúde está melhorando, mas não há coletiva de imprensa para divulgar as crianças que não morreram de malária."

Gates afirma que a crença de que o mundo está piorando não será possível acabar com doenças e pobreza extrema não é apenas equivocada, é prejudicial e pode brecar o progresso. "Faz nossos esforços parecerem inúteis."

O filantropo e empresário também ataca os críticos da ajuda externa.

"Dizer que ajuda externa não funciona é apenas um pretexto para os políticos cortarem o orçamento de auxílio a outros países - e isso significaria que menos vidas seriam salvas", escreve.
Segundo Gates, os EUA gastam em subsídios agrícolas o dobro do que despendem em ajuda a projetos de saúde. E gastam 60 vezes mais em assuntos militares.

O total de ajuda externa da Noruega, a nação mais generosa de todas, corresponde a 3% de seu orçamento. Nos EUA, é menos de 1% do orçamento.

"Não quero dizer que US$ 11 bilhões não sejam muito dinheiro; mas se pusermos em perspectiva, trata-se de US$ 30 para cada americano. Imagine se a declaração de imposto de renda perguntasse: 'Posso usar US$ 120 dos impostos que você já está pagando para proteger 120 crianças do sarampo? Você diria sim ou não?"

Em entrevista à Folha em 2011, Gates também criticou a pouca disposição do governo brasileiro de aumentar sua ajuda externa. "O Brasil precisa deixar de gastar apenas dezenas de milhões de dólares em ajuda a outros países e passar a gastar centenas de milhões: isso não é uma enorme porcentagem do PIB brasileiro", disse na época.


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