Folha de S. Paulo


Convite ao Irã surpreende Ocidente e pode minar negociação sobre Síria

O convite da ONU ao Irã para participar da conferência sobre o conflito na Síria pegou de surpresa os países ocidentais, que até então não haviam concordado com a participação da República Islâmica.

A manobra pode ainda minar a negociação, que começará em Montreux, na Suíça, na próxima quarta (22). Após o convite, a Coalizão Nacional Síria, único grupo opositor que irá ao encontro, ameaçou se retirar.

O chamado foi feito no domingo (19) pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, afirmando que o Irã concordou com a ideia de transição da conferência de Genebra, de 2012. Hoje, porém, Teerã disse que Irã ao evento sem pré-condições.

A afirmação dos iranianos pode provocar a irritação dos Estados Unidos, que foram pegos de surpresa pelo convite, segundo o jornal "The New York Times". O país, junto com Reino Unido e França, defende a aceitação da transição que, para eles, significa a saída de Assad.

Em entrevista, a porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki, afirmou que o Irã não deve ir se não aceitar o acordo. "Nós também estamos profundamente preocupados sobre as contribuições iranianas à campanha brutal de Assad contra seu povo, que ajudou a aumentar o extremismo e a instabilidade na região".

França e Reino Unido também exigiram que o Irã aceite a transição política. Para o chanceler francês, Laurent Fabius, a participação na conferência significa aceitar a saída de Assad. Já o britânico William Hague disse que o reconhecimento do processo facilitará os avanços no diálogo.

OPOSIÇÃO

O convite de Ban Ki-moon ao Irã irritou a Coalizão Nacional Síria, grupo opositor no exílio que foi o único a aceitar participar da conferência desta semana. Para Ahmad Ramadan, membro do alto escalão da coalizão, a oposição sairá das negociações por considerar que o Irã "está invadindo a Síria".

Já o chanceler russo, Sergei Lavrov, afirmou que fazer a conferência sem Teerã seria "uma profanação" e chamou a ameaça da coalizão opositora de "pirraça". "Se alguém duvida da necessidade de convidar todos os atores influentes, esse alguém não se interessa em um fim justo à crise".

Apesar da movimentação política, não é esperado um acordo para dar fim ao conflito. Embora o regime sírio tenha concordado com um cessar-fogo, as maiores forças rebeldes, moderadas ou radicais ligadas à Al Qaeda, rejeitam qualquer saída negociada à guerra civil, que deixou mais de 100 mil mortos em três anos.


Endereço da página: