Folha de S. Paulo


'Não volto mais', diz refugiado em Londres

"Não volto para o Brasil nunca mais. O Brasil não é mais minha pátria", diz o analista de sistemas Paulo Airton Pavesi. Ele se refugiou na Itália em 2008 e hoje vive em Londres.

A saga de Pavesi, 46, começou em 19 de abril de 2000. Naquele dia, o filho dele, Paulinho, então com dez anos, estava brincando no playground de seu prédio, em Poços de Caldas (MG), e caiu de uma altura de dez metros. Bateu a cabeça.

Foi internado em um hospital e, pouco tempo depois, os pais foram informados de que o menino havia sofrido morte cerebral. Começaram os procedimentos para retirar órgãos para doação.
Paulinho foi enterrado dentro de um caixão branco, junto com seus bonecos Pokémon favoritos.

Algum tempo depois, veio a conta do hospital. Pavesi começou a questionar a cobrança, de R$ 11.668 na época (R$ 26.336 em valores de hoje), alegando que haviam cobrado por procedimentos realizados quando o menino era mantido vivo apenas para a retirada dos órgãos –o que não seria permitido pela lei de transplantes.

A luta de Pavesi para corrigir a conta do hospital transformou-se em uma batalha por acesso ao prontuário de Paulinho. Depois virou uma cruzada contra a suposta máfia de tráfico de órgãos no país, que envolveria médicos que trataram do menino, segundo Pavesi.

Em 2002, quatro médicos foram denunciados pelo Ministério Público por homicídio. Segundo os promotores, havia suspeita de que o menino ainda estivesse vivo quando seus órgãos foram retirados. Há também a acusação de que os órgãos tenham entrado em uma fila paralela e irregular de transplantes.

Treze anos depois da morte de Paulinho, os médicos ainda não foram julgados.

Já Pavesi foi processado inúmeras vezes por injúria e calúnia. Ele diz ter sido absolvido em sete processos. "Eu era chamado de louco e recebi ameaças de morte", diz.

Sentindo-se perseguido, resolveu se refugiar na Itália. "Não dava mais para eu ficar no país, o Brasil não garantia meus direitos fundamentais."

EDitoria de Arte/Folhapress

Ele entrou na Itália em 2008 como turista, com a segunda esposa, Érika, e sua filha mais nova, Cléo, e aí fez o pedido de refúgio. Depois de conseguir refúgio, obteve cidadania do país, por ser descendente de italianos.

Ficou mais de quatro anos na Itália. Em 2012, com a crise econômica, foi para a Inglaterra, onde trabalha como desenvolvedor de sistemas.

"Claro que não é fácil começar a vida do zero, aos 40 anos, em um país estranho", diz Pavesi. "Mas eu não tinha opção."


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