Folha de S. Paulo


ONU decide parar de contar número de mortos em conflito na Síria

O Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU anunciou nesta terça-feira que vai parar de contar os mortos no conflito na Síria devido à dificuldade em atualizar as fontes de informação. A última estimativa, revelada em julho, mostrava que 100 mil pessoas haviam morrido no conflito desde março de 2011.

Desde 2012, a operação das Nações Unidas no país árabe foi dificultada devido a barreiras colocadas pelo regime do ditador Bashar al-Assad. No ano passado, a falta de segurança obrigou a saída das missões da ONU, afetadas por ataques tanto do governo quanto dos rebeldes.

Bassam Khabieh/Reuters
Homem segura bebê que sobreviveu a um ataque aéreo de forças leais ao presidente Bashar al-Assad em Damasco
Homem segura bebê que sobreviveu a um ataque aéreo de forças leais ao presidente Bashar al-Assad em Damasco

De acordo com o porta-voz do órgão da ONU, Rupert Colville, a falta de acesso ao país aumentou as falhas para conseguir informações sobre as mortes. A situação também foi agravada pela incapacidade de verificar outras fontes, como as de ativistas e do governo.

O representante afirmou que o número de mortos é baseado "em um esforço exaustivo" para verificar uma combinação de seis tabelas diferentes fornecidas para uma variedade de fontes que nos últimos meses não conseguiram ser atualizadas.

Com a saída da ONU, a única fonte de divulgação de dados sobre as mortes na Síria é o grupo de ativistas Observatório Sírio de Direitos Humanos. A organização, sediada em Londres, em estudo divulgado na semana passada, que 130 mil pessoas haviam morrido desde o início do conflito.

CONFRONTOS

Nesta terça, o Observatório Sírio de Direitos Humanos informou que 34 militantes extremistas foram mortos em combate com rebeldes moderados no norte da Síria. A entidade afirma que a maioria deles pertence ao Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), grupo vinculado à rede terrorista Al Qaeda.

Moderados e islamitas se enfrentam nos últimos meses pelo domínio de diversas cidades do país. Devido à interferência e à infiltração de extremistas, as forças rebeldes, como o Exército Livre Sírio, têm perdido o apoio da comunidade internacional, em especial a ajuda de Estados Unidos e Reino Unido.

Outro ponto de descrédito é a negativa em dialogar com Damasco para dar fim ao conflito em conferência convocada pelos Estados Unidos, a Rússia e a ONU, a ser realizada no fim do mês na França. Nesta terça, o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que Assad deve deixar o poder antes do evento.

"Devemos garantir que todas as medidas adotadas não fracassem e, assim, abrir uma era sem Assad. Cento e trinta mil pessoas morreram na Síria. Quem permitiu que isso acontecesse não pode continuar a comandar o país. Isso é inaceitável".

O mais recente confronto entre os inimigos de Assad começou há quatro dias nas Províncias de Aleppo e Idlib, no norte do país, alimentadas pelo ressentimento contra a agenda radical do EIIL e por uma disputa de território perto da fronteira com a Turquia, onde pontos de resistência rebelde controlam rotas de abastecimento.

Os confrontos também se espalham até a cidade de Raqqa, no leste, a única cidade síria sob completo domínio dos rebeldes.

A Rede Síria de Direitos Humanos, outro grupo oposicionista de monitoramento, disse na segunda-feira que 71 guerrilheiros do EIIL, 20 rebeldes e 26 civis foram mortos em confrontos para expulsar o EIIL em Raqqa e outras partes da Síria, desde sexta-feira.

O líder da Frente al Nusra, Abu Mohammed al Yulani, propôs nesta terça-feira um plano para acabar com os enfrentamentos entre as facções rebeldes no norte da Síria, que inclui um cessar-fogo.

Em uma gravação de áudio divulgada na internet, o dirigente do grupo vinculado à Al Qaeda detalhou os pontos de sua iniciativa, que inclui uma troca de prisioneiros e a criação de uma comissão religiosa neutra, onde haja representantes de todas facções concernidas, que serão castigados se não respeitarem suas decisões.

A proposta também sugere julgar os implicados no derramento de sangue, dar prioridade à luta contra o regime de Bashar Al-Assad e abrir todas as estradas fechadas pelos insurgentes.


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