Folha de S. Paulo


Desmond Tutu volta atrás e diz que vai a funeral de Mandela

Sob forte esquema de segurança, o corpo do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela chegou ontem a Qunu, terra de seus ancestrais, para ser enterrado hoje, encerrando dez dias de luto e celebrações.

Cerca de 5.000 pessoas acompanharão a cerimônia, entre celebridades, líderes políticos e amigos.

Na última hora, o governo conseguiu evitar mais uma controvérsia em uma programação já bastante atribulada.

Nobel da Paz e maior símbolo da luta contra o apartheid depois de Mandela, o arcebispo Desmond Tutu havia dito durante o dia que não iria ao funeral, por não ter sido convidado pelo governo sul-africano.

"Eu gostaria de assistir à cerimônia para dar um último adeus a alguém de quem gostava. [...] Se eu tivesse sido informado de que era bem-vindo, não perderia por nada", declarou, de manhã.

Tutu é um crítico do atual presidente, Jacob Zuma, e do partido governista, o Congresso Nacional Africano. Suas denúncias de corrupção, abuso de poder e má gestão econômica o tornaram persona non grata no governo.

Como a repercussão foi imediata, o porta-voz da Presidência, Mac Maharaj, apressou-se em dizer que Tutu estava, sim, na lista de convidados. "Eu conferi e definitivamente está na lista. É uma pessoa muito especial para nosso país."

No fim do dia, tendo em vista este gesto do governo, Tutu afirmou que mudou de ideia e deve comparecer hoje.

Ontem, o corpo de Mandela deixou a capital, Pretória, e foi levado de avião até o aeroporto de Mthatha, na província de Cabo Oriental. De lá seguiu para Qunu, onde chegou por volta das 16h (12h de Brasília).

Helicópteros militares sobrevoaram o cortejo durante o trajeto de cerca de 40 km, que foi acompanhado por milhares de pessoas nas calçadas e na beira da estrada.

A cerimônia começa às 8h (4h de Brasília) e deve durar quatro horas. As primeiras duas terão ritos tradicionais da tribo thembu, à qual pertence Mandela, que incluem o sacrifício de um boi e uma invocação aos espíritos dos ancestrais. As duas últimas serão privadas, apenas para a família.

O lugarejo foi invadido por centenas de jornalistas e todo o aparato do Estado sul-africano. Sem pistas adequadas para aterrissar, helicópteros militares pousam em pastagens, em meio a vacas e cabras.

"Mandela sempre foi muito amável conosco. Há dois anos, chamou várias famílias para sua casa no Natal, e passou a noite contando histórias, rindo e cantando", disse Khululwa Somzana, atendente no Museu Nelson Mandela, na cidade.


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