Folha de S. Paulo


'Estratégia não é clara', diz ex-embaixador brasileiro nos EUA

Diplomatas brasileiros e americanos comparam a única visita oficial de Dilma Rousseff a Washington à do presidente colombiano Juan Manuel Santos aos EUA, na última semana.

Em conversas reservadas, eles dizem que Dilma não teria o "apetite ou a estratégia" para se fazer ouvir na capital.

Em abril de 2012, além do encontro com Obama na Casa Branca, Dilma deu uma só palestra na cidade, na Câmara de Comércio Americana. Não deu entrevista exclusiva à imprensa americana --a última antecedendo uma viagem ao país foi concedida à "Newsweek" em setembro de 2011. Em dois anos, só falou com a revista "Forbes".

Já o colombiano Santos, que também foi à Casa Branca e à Câmara de Comércio, jantou no Center for American Progress, encontrou colunistas da CNN e da rede de rádio NPR e apareceu no programa "Morning Joe", da MSNBC. Visitou o jornal "Washington Post", o BID e deu palestra no Clube de Imprensa de Washington.

"Os colombianos ocuparam todos os espaços possíveis", diz a ex-diretora da fundação Heinrich Boell, Helga Flores Trejo. Ela sabe como é operar num ambiente de relações tensas entre governos.

Em 2003, quando a Alemanha se recusou a participar da invasão do Iraque, e as relações entre Bush e o chanceler Gehard Schroeder azedaram, "as fundações alemãs funcionavam como canais de diálogo em Washington, para explicar aos americanos nossos pontos de vista", diz. "Não dependíamos dos humores dos políticos".

Sua fundação, mantida pelo Partido Verde alemão, promoveu diversos debates com os conservadores do American Enterprise Institute, outro centro de estudos.

No mês passado, o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson de Andrade, defendeu que o Brasil voltasse a discutir um acordo de livre-comércio com os EUA. "Estamos isolados", disse, em referência aos dois blocos comerciais impulsionados pelos americanos, a Aliança do Pacífico e a Parceria Transatlântica.

Para o ex-embaixador brasileiro nos EUA Rubens Barbosa, "entre os grandes países emergentes, o Brasil é o único que não tem uma estratégia clara junto à comunidade decisória em Washington. Talvez porque o Brasil, tanto nação, quanto governo, não dê a necessária atenção ao potencial de relacionamento com os EUA, como faz a China, por exemplo".


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