Folha de S. Paulo


Em meio a diálogo nuclear, Irã diz que retaliará EUA por novas sanções

Um dia após os EUA anunciarem punições contra novas empresas e pessoas acusadas de burlar sanções contra o Irã, a república islâmica ameaçou nesta sexta-feira retaliar a medida e disse que a decisão americana afeta as negociações nucleares mais construtivas em uma década.

Apesar da clara irritação, Teerã se absteve de decretar a ruptura total do processo diplomático iniciado há um mês, em Genebra, com a assinatura de um histórico acordo provisório com as potências para tentar pôr fim ao impasse em torno do programa nuclear iraniano, acusado de ter objetivos bélicos.

"Estamos avaliando a situação, e o Irã reagirá de acordo com as novas sanções impostas contra 19 companhias e indivíduos. Isso vai contra o espírito do acordo de Genebra", disse o vice-chanceler iraniano, Abbas Araghchi, citado pela agência Fars.

A porta-voz da chancelaria iraniana, Marzie Afjam, também acusou "grupos dentro e fora do governo americano" de quererem "matar" o pacto obtido em novembro.

Não está claro de que maneira Teerã poderia reagir à decisão americana.

A Rússia, que faz parte das potências negociadoras, ao lado de EUA, China, Reino Unido, França e Alemanha, concordou que as punições ferem o acordo de Genebra.

No mês passado, o Irã se comprometeu a frear a expansão de seu programa nuclear, reduzir o grau de pureza do seu urânio enriquecido e permitir monitoramento mais intrusivo de inspetores da ONU.

Em contrapartida, as potências permitiram que Teerã recupere parte de seus ativos congelados em bancos no exterior e anunciaram alívio de algumas sanções, entre as quais no setor aéreo e na indústria automobilística.

As potências também prometeram não impor novas punições ao Irã pelos próximos seis meses, prazo definido para que as partes se testem mutuamente antes de um entendimento definitivo.

Mas o governo americano anunciou na quinta-feira novas punições contra organizações acusadas de burlar sanções contra o Irã impostas por causa de seu programa nuclear.

Implementadas pelos departamentos de Estado e do Tesouro, as medidas são amplamente vistas como uma tentativa da Casa Branca de tentar convencer o Congresso, hostil ao Irã, a não aplicar novas sanções que visem diretamente os iranianos.

A Casa Branca negou que a medida viole o pacto de Genebra e alegou que o objetivo é reforçar mecanismos de pressão já existentes.

A iniciativa congela ativos nos EUA de pessoas e empresas do Panamá, da Ucrânia, de Cingapura e de outros países que são acusadas de fazer negócios com a transportadora estatal de petróleo do Irã. As entidades também ficam banidas de fazer negócios no mercado americano.

Embora não visem diretamente o Irã, as medidas podem privar Teerã de importantes parceiros comerciais.

Momentos após o anúncio das punições, uma delegação iraniana que participava em Viena de uma reunião com as potências sobre aspectos técnicos da negociação nuclear abandonou o encontro e voltou às pressas para Teerã.

A União Europeia, que atua como interface das potências nas conversas com o Irã, minimizou o incidente. Mas fontes diplomáticas consultadas pela agência de notícias Reuters atribuíram a saída da comitiva iraniana às novas sanções.

Apesar da tensão gerada pelo episódio, ainda não há sinais claros de que Teerã decidiu reverter o atual caminho de reaproximação com o Ocidente, pavimentado pelo presidente Hasan Rowhani.Ele foi eleito em junho com a promessa de obter alívio para as sanções que devastam a economia do país.


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