Folha de S. Paulo


Dilma agradece Hollande por apoio contra espionagem dos EUA

Após série de reuniões bilaterais com o presidente francês, François Hollande, no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff agradeceu nesta quinta-feira (11) o apoio francês às iniciativas junto à ONU (Organização das Nações Unidas) contra as ofensivas de espionagem patrocinadas sobretudo pelos Estados Unidos.

Paris defendeu o projeto de resolução sobre direito à privacidade apresentado por Brasil e Alemanha, no início de novembro. A resolução foi adotada há duas semanas pela Terceira Comissão das Nações Unidas. Além da França, países como Rússia e México, que haviam sido vítimas de interceptações, se juntaram ao projeto.

O acidente diplomático foi discutido por Dilma e Hollande em reunião privada nesta quinta. Segundo a brasileira, os dois países querem "ser sócios da construção de uma ordem mundial mais justa, mais igualitária e democrática".

Em seu discurso, Hollande também destacou o apoio da França à iniciativa de Brasil e Alemanha. "Nós apoiamos essa ação e iniciativa, porque ela é necessária tanto para a soberania das nossas nações como para nossas liberdades individuais".

Sem mencionar diretamente os Estados Unidos, o presidente afirmou que a defesa cibernética "é ainda mais necessária após a revelação de uma série de informações que fazem com que nós tenhamos que ter uma reação firme, mas além disso temos que ter políticas para proteger nossos direitos".

O presidente francês ressaltou que as relações econômicas e comerciais são um dos eixos do relacionamento estratégico entre os dois países e lembrou que as trocas comerciais continuaram crescendo, apesar da crise na Europa e também no Brasil.

Dilma também convidou a delegação francesa a participar no ano que vem da Reunião Multisetorial Global Sobre Governança da Internet, que acontecerá em São Paulo, em abril do ano que vem, e que discutirá temas relativos à segurança cibernética.

IRÃ

Ambos os países discutiram também os desdobramentos do acordo nuclear assinado por Irã e potências atômicas, do qual a França também foi patrocinadora. O tratado provisório congela o programa nuclear iraniano no ponto onde está por seis meses, enquanto se busca um acordo pleno.

Segundo Dilma, "há uma expectativa do Brasil de que haja um conclusão satisfatória" para a aproximação de ambos os países que também "respeite o direito do Irã ao uso pacífico da energia nuclear".

O presidente francês também tocou no assunto. "Temos um bom acordo, mas ainda não é aquele que fará com que o Irã abandonasse definitivamente a intenção de ter uma arma nuclear. Mesmo reconhecendo o direito de eles terem energia para fins civis", afirmou Hollande.

DISCUSSÕES E ACORDOS

Entre os assuntos discutidos com a presidente Dilma Rousseff estão, por exemplo, a oferta de caças franceses para a Aeronáutica, o acordo entre Mercosul e União Europeia para criação de área de livre-comércio e a situação econômica dos países do bloco europeu.

A visita de Estado acontece um ano depois de a presidente Dilma ter encontrado seu homólogo em Paris. Na ocasião, ela afirmou que a compra dos caças estava suspensa devido à crise econômica.

Segundo fontes do governo, a barreira para a compra dos aviões Rafale, fabricados pela francesa Dassault, está no preço da oferta, já que o Brasil tem um histórico positivo com o país europeu quando a questão é a transferência de tecnologia.

O presidente da Dessault, Éric Trappier, está entre os integrantes da comitiva francesa que veio ao Brasil para esta visita.

Os dois países também assinaram acordo para permitir que jovens mochileiros fiquem até um ano na França --hoje, o tempo para turismo é restrito a três meses, sem necessidade de visto.

Essa permissão deve ser concedida por meio de visto específico. O documento poderá permitir ao nacional que trabalhe na França, mas apenas para complementar a renda durante o período de turismo. O documento tem efeito também para os franceses em viagem ao Brasil.

França e Brasil assinaram ainda acordo para o Fórum Brasil-França, para ênfase no desenvolvimento de comércio e investimentos recíprocos. No âmbito do Ciência Sem Fronteiras, firmaram também acordo de cooperação para mestrado profissional em 2014 e 2015.

As universidades francesas são o terceiro destino de estudantes brasileiros, perdendo apenas para os EUA e o Canadá.

Outros acordos de cooperação com os ministérios do Trabalho, Agricultura e Esporte, além de assinatura para construção de satélite geoestacionário brasileiro, com a francesa Thales Alenia, foram assinados.


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