Folha de S. Paulo


Nicolás Maduro enfrenta primeiro teste nas urnas

Após oito meses de governo titubeante, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, enfrentará seu primeiro teste nas urnas com as eleições municipais de hoje, disputadas sob o impacto de medidas como a redução compulsória dos preços dos eletrodomésticos e o maior controle da economia.

Governistas e estrategistas da oposição ouvidos pela reportagem concordam que Maduro, que chegou ao poder com uma magra vitória em abril, ganhou um "momentum" ao ordenar, no começo de novembro, que lojas dessem "preços justos" a TVs de plasma, máquinas de lavar e outros artigos.

O esquerdista promete fixar margens de lucro para todos os setores da economia.

O consenso é que o herdeiro político de Hugo Chávez, morto em março, melhorou sua imagem, especialmente diante da base chavista, com a "mão dura" contra o setor privado --ainda que, para a maior parte dos economistas, as medidas só devam aprofundar as distorções econômicas no país que tem rígido controle de câmbio e inflação anual de mais de 50%.

A expectativa é que o chamado "efeito TV de plasma" ajude o chavismo em uma variável importante hoje: a participação eleitoral, tradicionalmente baixa para a escolha de prefeitos.

"Nos primeiros sete meses de governo, Maduro estava acuado, contra as cordas do ringue, havia mal-estar na base chavista e estava sob ataque econômico da direita. Essas medidas econômicas lhe deram oxigênio, reanimaram e deram moral aos chavistas", disse à Folha o cientista político Heiber Barreto.

"Sem essas medidas, o resultado seria dramático", seguiu ele, que coapresenta um programa em um site de debates ligados ao chavismo.

Avaliação semelhante a Folha ouviu de nomes da oposição que, sob anonimato, confirmaram que suas medições internas no último mês indicaram alta na aprovação do presidente e uma maior motivação dos chavistas para ir à votação.

No entanto, a natureza da eleição --local e pulverizada-- não anima os analistas a cravar resultados, que serão lidos em duas vertentes: o número de prefeituras conquistadas e a quantidade total de votos obtidos em todo o país por governo e oposição.

Como Maduro ganhou a Presidência com apenas 230 mil votos a mais que o nome da oposição, Henrique Capriles, é especialmente importante para ele que o governo leve a melhor nesse quesito.

Isso reafirmaria sua liderança dentro do próprio chavismo e desferiria um golpe em Capriles, que liderou a campanha opositora.

Atualmente, o chavismo comanda 84% dos 337 postos em disputa hoje --335 prefeituras municipais, a Prefeitura Metropolitana de Caracas e uma jurisdição especial.

O governo deve se manter como a corrente majoritária, mas a oposição aposta em levar as cidades mais populosas para se manter viva.

As atenções hoje também se voltarão para o desempenho dos candidatos-celebridades escalados pelo chavismo para a disputa.

A imposição de nomes em todo o país, especialmente de "famosos", causou incômodo na base e se refletiu no lançamento de 116 candidatos "chavistas independentes".

Um desses candidatos-celebridades é o ex-jogador de beisebol e cantor de reggaeton Antonio "Potro" Álvarez, que tentará reaver para o governo a Prefeitura de Sucre.

Um dos municípios que formam Caracas, a cidade abriga a maior favela do país, Petare, e está nas mãos da oposição desde 2008.

"Potro", que comandou na quarta um enorme showmício em Petare, ainda encontra resistência entre os chavistas.

Eleitora de Chávez e Maduro, Yoli Gutiérrez, 27, comemorava na sexta a maior obra do governo na favela: a instalação de um teleférico que diminui o tempo que ela gasta para ir do trabalho para casa de três horas para apenas uma. Mesmo assim, ela tinha dúvidas sobre a eleição: "O 'Potro' não inspira confiança. Não sei se vou votar".


Endereço da página: